São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

Bossa nova

RIO DE JANEIRO - Não chega a ser uma polêmica entre os entendidos, mas uma discussão que, de vez em quando, inflama os meios especializados. Afinal, quem por primeiro batizou a bossa nova de bossa nova?
É praia estranha para mim. Conhecia a palavra "bossa" desde o delicioso samba de Noel Rosa, "o samba, a prontidão e outras bossas, são nossas coisas, são coisas nossas".
Cinqüenta anos atrás, ouvi novamente a palavra, mas não ainda como referência ao estilo musical que começava a ser praticado por uns rapazes, alguns deles meus amigos. Foi na redação de um jornal. Com outros colegas, inauguramos o "copy desk" de tradicional matutino, que se recusara até então a adotar um grupo de profissionais que davam uniformidade aos textos das reportagens.
Como sempre acontece diante das novidades, a turma mais antiga da redação estranhou, não entendia o que fazíamos ali. Foi criado um espaço cercado de vidros para que houvesse realmente um "desk" destinado a mexer nos textos de todos.
O diretor responsável pelo jornal era um senhor austero, de voz e gestos solenes, seria o último a entender o que fazíamos ali. Uma tarde, mostrando a um visitante ilustre as dependências do jornal, aproximou-se de nós e, sem saber como classificar-nos, informou com hierática certeza: "Aqui é... aqui é... a bossa nova!".
Foi a primeiríssima vez que ouvi a expressão. Só então reparei que ela estava sendo usada para designar um tipo de música popular que marcaria aqueles anos. Bem verdade que o estilo, ainda sem a batida do João Gilberto, tinha antecedentes respeitáveis, e Juca Chaves chamara JK de "presidente bossa nova". Nada disso me impressionou. Guardei aquela voz solene de um diretor austero: "Isso aí é... a bossa nova".


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