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CARLOS HEITOR CONY
Bossa nova
RIO DE JANEIRO - Não chega a
ser uma polêmica entre os entendidos, mas uma discussão que, de vez
em quando, inflama os meios especializados. Afinal, quem por primeiro batizou a bossa nova de bossa
nova?
É praia estranha para mim. Conhecia a palavra "bossa" desde o delicioso samba de Noel Rosa, "o samba, a prontidão e outras bossas, são
nossas coisas, são coisas nossas".
Cinqüenta anos atrás, ouvi novamente a palavra, mas não ainda como referência ao estilo musical que
começava a ser praticado por uns
rapazes, alguns deles meus amigos.
Foi na redação de um jornal. Com
outros colegas, inauguramos o
"copy desk" de tradicional matutino, que se recusara até então a adotar um grupo de profissionais que
davam uniformidade aos textos das
reportagens.
Como sempre acontece diante
das novidades, a turma mais antiga
da redação estranhou, não entendia
o que fazíamos ali. Foi criado um
espaço cercado de vidros para que
houvesse realmente um "desk" destinado a mexer nos textos de todos.
O diretor responsável pelo jornal
era um senhor austero, de voz e gestos solenes, seria o último a entender o que fazíamos ali. Uma tarde,
mostrando a um visitante ilustre as
dependências do jornal, aproximou-se de nós e, sem saber como
classificar-nos, informou com hierática certeza: "Aqui é... aqui é... a
bossa nova!".
Foi a primeiríssima vez que ouvi
a expressão. Só então reparei que
ela estava sendo usada para designar um tipo de música popular que
marcaria aqueles anos. Bem verdade que o estilo, ainda sem a batida
do João Gilberto, tinha antecedentes respeitáveis, e Juca Chaves chamara JK de "presidente bossa nova". Nada disso me impressionou.
Guardei aquela voz solene de um
diretor austero: "Isso aí é... a bossa
nova".
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