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ANTONIO DELFIM NETTO
Juro real
No mês de dezembro de 2000, o
Copom do Banco Central fez
uma vigorosa redução da taxa de juro
Selic de 16,5% para 15,75%. A meta inflacionária para 2001 era de 4%. O Relatório de Inflação de dezembro de
2000 confirmou a confiança na sua
realização com a projeção da taxa de
inflação no fim de ano entre 3,6% e
4,5% (ponto médio de 3,9%). Com a
mesma taxa de 15,75%, a projeção da
taxa de crescimento real do PIB era de
aproximadamente 4,5%. A convicção
do governo era tanta que os seus marqueteiros inventaram um formidável
slogan: "É a primeira vez, em 45 anos,
que a taxa de inflação será menor do
que a de crescimento" -como se isso
significasse alguma coisa. Quando
descobriram que a Argentina (quebradinha "da Silva") cumpria isso havia dois anos, recolheram a viola...
Em janeiro de 2001, o Copom reduziu de novo a taxa de juro para 15,25%,
mesmo quando o IPCA sofria um
choque transitório de oferta agrícola.
A partir de março, o Copom aumentou mensalmente o juro, reconhecendo uma desagradável elevação da taxa
anual de inflação de perto de 6% para
7%. Em junho, diante do choque energético, tivemos um aumento do juro
de 150 pontos. O ciclo completou-se
em julho, com mais 50 pontos, atingindo o nível de 19%, mantido constante por seis meses e, agora, reduzido
a 18,75%. Navegando num mar difícil
-de choques de oferta, de incompetência governamental na área energética, de enorme flutuação cambial e de
incertezas com relação à Argentina e à
economia americana-, o Banco Central manobrou com 375 pontos de aumento de juro (de 15,25% em janeiro
para 19% em julho). Enquanto isso, o
crescimento do PIB afundava.
O resumo de 2001 está na tabela
abaixo.
É evidente que as consequências
mais danosas para a sociedade brasileira advieram da tremenda redução
do crescimento esperado, que tinha
boas chances de realizar-se não fosse a
barbeiragem energética. A taxa de juro real em janeiro, supondo a "meta"
realizada, era de 10,8% (15,25% de Selic e 4% de inflação). Em julho, ela seria de 18% ("swap" de 360 dias em torno de 26% e inflação de 7%). É evidente que os choques de 2001 não se repetirão, mas mesmo os mais otimistas
não crêem numa taxa de inflação em
dezembro de 2002 muito diferente de
5%, o que dá a elevada taxa de juro
real hoje de 14% ("swap" de 360 dias
em torno de 20%).
O problema do Banco Central é que
2000 terminou com uma taxa de inflação rodando em torno de 6%, e a meta
para 2001 era de 4%. Em 2001, ela terminou em torno de 7,7%, e a meta para 2002 é de 3,5%. A diferença do ajuste da taxa de inflação anual era de 2%
(6% menos 4%) em 2001 e será de
4,2% (7,7% menos 3,5%) em 2002. Isso exigirá uma calibração cuidadosa
da taxa de juro real se a meta de inflação (e não o seu limite superior) for,
como deve ser, seriamente perseguida.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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