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CARLOS HEITOR CONY
O sobe-e-desce
RIO DE JANEIRO - Fui trocar peça de
um novo notebook num edifício
enorme, no centro do Rio, famoso pela oferta de parafernálias eletrônicas.
Os cinco primeiros andares não eram
servidos por elevadores, mas por escadas rolantes em imensos halls
cheios de gente.
A peça que procurava era difícil de
encontrar. Dois funcionários da loja
foram fazer buscas complicadas e me
deixaram junto a uma escada rolante, aliás duas, uma que descia e outra
que subia.
Fiquei seguramente mais de meia
hora me distraindo com as caras dos
que subiam e desciam. Nunca tivera
tempo, oportunidade e vontade para
tal e tanto. Em geral, e quando é preciso, sou eu que subo ou desço conforme as necessidades da circunstância,
na qual procuro não colocar qualquer pompa.
Vai daí, fiquei admirado de nunca
ter admirado o espetáculo dos sobes-e-desces do restante da humanidade.
Nos elevadores, vamos todos calados,
procurando manter um mínimo de
decência social ou alheamento. Estamos ali provisoriamente, nada que
nos comprometa.
Na escada rolante é diferente. O sujeito ao subir adquire uma aura, um
halo em torno da cabeça. Como os
santos nas igrejas. A expressão corporal torna-se ovante, alguns até ganham certa majestade, embora sejam contínuos ou faxineiros. Todos se
sentem num momento importante,
acreditam que ali, subindo mecanicamente de um andar para outro, estejam dominando as contingências
humanas, usufruem daquilo que os
americanos chamam de "finest
hour".
Na descida é quase a mesma coisa,
só que ao contrário. Alguns chegam a
ficar cabisbaixos, não porque quebraram a cara no que foram fazer ou
procurar. Descer é sempre incômodo,
sobretudo para quem subiu tão pouco. A cara dos que descem nunca é a
mesma da dos que sobem. Na subida,
a maioria está mal-informada, como
sempre. Na descida, bem realizado
ou não, o sujeito acha que cumpriu
uma função. Aliviado, voltará para a
vida lá fora, que não sobe nem desce,
monotonamente é apenas chata.
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