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RUY CASTRO
Sabá
RIO DE JANEIRO - Os olhos ampliados pelas lentes absurdas pareciam crescer mais ainda quando se
falava de certos nomes. Conversar
sobre música com Sabá era assistir
a um espetáculo de admiração. Sua
paixão pelos grandes pianistas ou
cantores com quem trabalhara refletia-se na sua expressão, na gesticulação, no tom de voz. Deixava de
ser um colega de palco, era um fã.
Mas o próprio Sabá merecia todo
o respeito. Paraense de 1927, era
um senhor contrabaixista. Em
1955, foi o primeiro a acompanhar
Johnny Alf quando este chegou a
São Paulo vindo do Rio -e tocar
com Alf tornou-o o baixista favorito
dos músicos modernos paulistanos.
Dez anos depois, com Cido ao piano
e Toninho na bateria, formou o
Jongo Trio, um grupo instrumental/vocal que estourou com "Menino das Laranjas". Chamados a
acompanhar os jovens Elis Regina e
Jair Rodrigues no show "O Fino da
Bossa", no Teatro Paramount, co-estrelaram um LP que vendeu milhares e não lhes rendeu tostão.
Em 1967, sem Cido e com Cesar
Camargo Mariano, o Jongo se tornou o Som 3, que acompanhou Wilson Simonal nos dias de glória do
cantor. Eram 365 shows por ano,
em cidades, Estados ou países diferentes, com escalas quinzenais em
Congonhas para beijar a família e
trocar as malas de roupa. Em 1972,
sem Cesar, ele se juntou a outro pianista: Dick Farney.
Sabá foi uma fonte inestimável
sobre a bossa nova em São Paulo
para meu livro "Chega de Saudade",
de 1990. Lembrava-se de cada boate
e de quem tocara nelas, onde, quando e com quem. Anos depois, fiz palestras sobre bossa nova ilustradas
musicalmente por um conjunto
que ele armou para a ocasião. Ali conheci melhor o ser humano. E conquistei o privilégio de poder dizer
que trabalhei com Sabá.
Sabá morreu em São Paulo, na
terça passada, aos 83 anos.
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