São Paulo, sábado, 27 de março de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Casca de banana

RIO DE JANEIRO - Há uma dose de ironia, sinistra ironia por sinal, nesta primeira crise do mandato de Lula. As turbulências dos primeiros meses provocaram mal-estar, fofocas, mentidos e desmentidos de praxe. Não passaram disso.
Com o caso Waldomiro, que arrastou consigo o número 2 da atual nomenclatura, formou-se a primeira tempestade, que ainda não se transformou num furacão, mas fez estragos generalizados na imagem do PT e do governo.
Analisadas friamente, as trapalhadas do ex-assessor da Casa Civil, por mais condenáveis que sejam, e merecedoras de punição, apenas respingaram no todo poderoso titular daquele cargo, que parece ser o mais importante depois da Presidência.
Mais cedo ou mais tarde, a menos que apareçam fatos novos e provados, o escândalo em si não tem proporções apocalípticas, resume-se na pisada de bola do Zé Dirceu, que devia ser mais rigoroso na escolha de seus homens de confiança.
Contudo, o episódio que atravessamos -e que parece longe de terminar- escancarou aquela suspeita de que grande parte do eleitorado mantinha a respeito da nova equipe que chegava ao poder: são homens preparados para governar um país com as características do nosso?
Acredito que ninguém duvida da probidade, das boas intenções e da garra de Lula e de sua principal equipe em realizar um bom governo, com o prometido espetáculo do crescimento, justiça social, fome reduzida a zero e outras maravilhas curativas para a nação enferma. Não foi por aí que surgiram receios e até mesmo um declarado medo de que as coisas poderiam não dar certo.
A ironia da crise atual reside justamente aí. Um caso de flagrante improbidade de funcionário do terceiro ou quarto escalão está alimentando a suspeita de que a turma lá de cima, tudo boa gente, não se preparou devidamente para enfrentar os desafios, as cascas de banana da vida política e administrativa do país.


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