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TENDÊNCIAS/DEBATES
O Congresso Nacional deve aprovar o Procultura?
SIM
Uma bandeira para o teatro
NEY PIACENTINI
NESTE DIA 27, Dia Mundial do
Teatro, as artes cênicas no
Brasil, se ainda não têm o que
comemorar, têm pelo que lutar.
Após 15 anos da retomada da politização do debate no teatro nacional,
que se reiniciou na década de 90 com
o movimento Arte contra a Barbárie
na cidade de São Paulo, foi criado no
novo projeto de lei para a cultura do
país, o Procultura, que está no Congresso Nacional, um fundo setorial
para as artes cênicas, e foram lançadas, no mesmo projeto, as bases de
um programa nacional para o teatro.
Trata-se de um grande avanço, visto que, desde a interrupção pela ditadura do histórico período em que a
cultura brasileira tinha amplo diálogo
com a sociedade, não se tem perspectiva de o teatro voltar a fazer parte da
vida da população do país.
A plataforma nacional é baseada na
experiência do Programa Municipal
de Fomento ao Teatro para a Cidade
de São Paulo, lei 13.279. Implantado
em 2002/2003, o programa mudou a
geografia teatral da cidade, descentralizando a produção e o acesso da
população ao teatro na capital e exigindo dos contemplados contrapartida social e real inserção nas comunidades onde os projetos são realizados.
O programa nacional, de nome Prêmio Teatro Brasileiro, tem três bases:
fomento a grupos e companhias teatrais em todo o país; estímulo à produção teatral por meio de montagens
de espetáculos não necessariamente
ligados a núcleos estáveis; difusão e
circulação de trabalhos teatrais em
todo o país.
Quando, em 2008, os editoriais dos
grandes jornais do país abriram espaço para debater duas propostas para o
teatro brasileiro, uma baseada em
fundo público e outra em renúncia
fiscal, houve quem não entendesse o
teor da ideia que acabou vingando.
Falou-se que o projeto defendido
por movimentos teatrais, cooperativas e entidades próximas à produção
teatral coletivizada não incluiria os
produtores sem vínculos à referida
base. Ou seja, produtor e empresas de
produção que não fizessem parte do
escopo de grupos e companhias não
teriam acesso ao programa.
Como se pode ver no projeto de lei,
que, do nosso ponto de vista, precisa
ser aperfeiçoado, isso não corresponde à realidade: "Artigo 66. Fica instituído o Programa Prêmio Teatro Brasileiro, que precisa ser definido em
regulamento, para fomentar: I -núcleos artísticos teatrais com trabalho
continuado; II - produção de espetáculos teatrais; e III - circulação de espetáculos ou atividades teatrais".
O inciso II do artigo 66 faz jus ao
pleito de um setor significativo da
produção nacional.
Outro temor dos produtores seria o
critério de escolha na concorrência
pública dos projetos a serem contemplados. De acordo com as diretrizes
levantadas pelos movimentos teatrais do país, o julgamento deve ser
feito por comissões paritárias entre
órgãos do governo e representantes
da sociedade, com notório saber na
área, eleitas pelas representações reconhecidas da categoria, cujo critério
central seria o mérito cultural dos
projetos.
Existe um argumento de que essas
comissões podem ser tendenciosas e
excluir aqueles que não estejam alinhados com a ideologia do governo de
plantão. Ora, para evitar que os governos sejam os únicos com poder de escolha é que se propõe a paridade com
a sociedade civil.
E mais, se esses delegados da sociedade puderem ser escolhidos a partir
das entidades que representam legitimamente a categoria, cabe aos agentes teatrais se dirigir às suas representações para garantir o direito de
participação nesse processo de escolha de possíveis membros das comissões julgadoras.
Nenhum procedimento é totalmente perfeito, e o tempo molda os
problemas que venham a surgir no
percurso de implantação de uma nova política para a cultura no Brasil.
Mas, depois de 15 anos de discussões
por todo o país, o que está no Congresso, no que diz respeito ao teatro
brasileiro, foi o melhor que o setor
produziu e da maneira mais democrática possível.
Cabe à comunidade cultural fazer
aprovar o projeto e acompanhar de
perto a sua instalação, como uma
aposta em um novo tempo para o teatro no Brasil.
NEY PIACENTINI , 49, é ator da Companhia do Latão e presidente da Cooperativa Paulista de Teatro.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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