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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Um alerta para todos nós

A China é o país que mais cresce no mundo. Seu PIB cresceu cerca de 8% ao ano nas últimas duas décadas. Ironicamente, na semana que passou, aquele país, que é campeão de construções, foi obrigado a tratar de dois assuntos relacionados à destruição.
O primeiro diz respeito à reunião de cúpula realizada em Pequim entre Estados Unidos e Coréia do Norte, mediados pelos anfitriões chineses, para tentar estancar a corrida nuclear coreana antes que seja tarde.
O segundo se refere às sucessivas reuniões realizadas pelas autoridades chinesas nos campos da saúde e da educação com vistas a controlar a epidemia de Sars ("Severe Acute Respiratory Syndrome") -a nova pneumonia asiática, que ainda é um enigma.
No caso dos armamentos, as autoridades terão de voltar a conversar até chegarem a uma solução pacífica -espera-se! Quanto à Sars, não há tempo a perder. As decisões tiveram de ser instantâneas. As aulas em Pequim foram suspensas por duas semanas e as comemorações do 1º de maio (que duram vários dias) foram canceladas em toda a China, para evitar contágios nas aglomerações.
Até a última sexta-feira, a China já havia apresentado 2.422 casos de Sars confirmados, tendo ocorrido mais de cem mortes. No mundo, eram 4.439 pessoas infectadas e 263 mortes, num crescente assustador (OMS -Organização Mundial de Saúde, 25/4).
A doença resiste aos tratamentos convencionais. O suspeito vírus da Sars (coronavírus) muda de estrutura a cada dia, o que dificulta a descoberta de medicação específica -um enorme desafio.
Os cientistas estão pedindo mais apoio para acelerar as pesquisas, da mesma forma que os cidadãos do mundo gostariam de usufruir a paz. É chocante ver os grandes mandatários discutindo formas de destruição de vidas, quando a humanidade luta para debelar uma doença devastadora.
O que é mais perigoso -Sars ou bomba atômica? Pergunta difícil. Difícil e incômoda. É triste ter de fazer uma escolha entre duas perversidades.
O Brasil, até o momento, está longe de ambas e não há razão para alarme. Mas não custa nos prevenirmos.
Quanto à Sars, é bom levar a sério as recomendações da OMS: fugir das aglomerações, evitar viagens a locais de risco e aumentar o controle rígido dos que estiveram nas regiões afetadas. São medidas que estão ao nosso alcance.
Quanto à disseminação das armas atômicas, só nos resta rezar, pois os países ricos têm desprezado sistematicamente os países pobres, que, nos organismos internacionais, clamam por mais desenvolvimento e menos armamento.
A mente dos poderosos precisa de uma boa reciclagem. Está na hora de eles usarem a sua inteligência para cuidar do bem-estar dos povos e não de sua destruição, pois os seus semelhantes desejam apenas construir suas famílias com trabalho e segurança. O que há de mau nisso?


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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