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O teste dos Kirchner
Ameaçado de perder apoio parlamentar em junho, casal vê crescer resistência de argentinos a seu projeto de poder
UM IMPASSE político
acirra o conflito social
e deteriora as expectativas sobre a economia
na Argentina. O país enfrenta
eleições legislativas, marcadas
para 28 de junho, que vão renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado.
Até aqui Néstor -presidente
de 2003 a 2007- e Cristina
Kirchner -que sucedeu ao marido- têm contado com o apoio da
maioria dos congressistas. Isso
garantiu certa tranquilidade à
Casa Rosada, apesar da traumática derrota na tentativa de aumentar impostos sobre a agricultura, em julho do ano passado.
A novidade trazida por algumas pesquisas eleitorais é que,
pela primeira vez, o casal Kirchner está ameaçado de perder o
domínio do Congresso -é provável, no mínimo, que a base governista saia menor da eleição. O fato por trás dessa expectativa é o
desgaste na popularidade da presidente. Hoje, apenas um em cada três argentinos aprova a gestão de Cristina Kirchner.
Mas o casal já deu mostras de
que, quando se trata de manter o
controle do jogo, vale até alterar
suas regras básicas. Numa manobra grosseira, a eleição legislativa, originalmente marcada para outubro, foi antecipada em
quatro meses, a fim de tentar evitar um estrago maior, com o acúmulo do desgaste presidencial.
A economia dá sinais de fraquejar, após um ciclo de seis anos
de exuberante crescimento do
PIB. A sem-cerimônia do governo ao distorcer estatísticas nessa
área, contudo, não permite enxergar a realidade pela ótica dos
dados oficiais. Analistas independentes preveem uma recessão da ordem de 2% neste ano.
Além de ter contado com a forte recuperação da renda nacional e de ter expandido programas assistenciais, a gestão dos
Kirchner empreendeu um grande programa para cooptar movimentos sociais -como os piqueteiros- que representavam uma
promessa de renovação no tradicional jogo de forças políticas na
Argentina. Essa cooptação até
hoje ajuda a amortecer as demonstrações de hostilidade contra o governismo.
A oposição, contudo, surge de
outros setores. A insatisfação da
classe média argentina -segmento que tem mais peso no
eleitorado daquele país do que
no brasileiro- ficou evidente
quando se perfilou ao lado dos
ruralistas, na queda-de-braço
com a Casa Rosada. Daquele episódio emergiu o nome de Julio
Cobos, o vice-presidente responsável pelo voto, no Senado, que
enterrou a proposta de aumentar impostos.
Cobos pertence à União Cívica
Radical, rival histórica do peronismo dos Kirchner. A UCR havia entrado em franca decadência após o desastroso governo De
la Rúa, a ponto de um de seus
quadros ter aceitado ser vice de
Cristina Kirchner.
O desgaste da presidente, a ascensão de Cobos e a comoção nacional despertada pela morte, no
fim de março, de Raúl Alfonsín
-expoente da UCR que presidiu
o país na difícil transição da ditadura- deixam a impressão de
que os Kirchner terão uma duríssima parada na eleição presidencial de 2011. Isso se decidirem mesmo disputar.
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