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CLÓVIS ROSSI
Até ficar de quatro
SÃO PAULO - Permita-me o leitor um pouco de auto-propaganda para ver
se comovo os meus chefes e arranco
um aumentozinho, que não está fácil
garantir o caviar dos netos.
O leitor da Folha pode reclamar do
dólar a R$ 3, mas não tem o direito
de se surpreender, ao menos com o
componente político da equação que
o levou a tal altura.
No dia 7 passado, quando Ciro Gomes apenas começava a disputar
com José Serra o segundo lugar, ficou
escrito neste mesmo espaço:
"A percepção dos mercados é a de
que Serra é o candidato-amigo. Os
outros são, por definição, inimigos.
Logo, dois "inimigos" juntos no segundo turno é dose para declaração
de guerra. Azar nosso."
Pois é, a declaração de guerra, justamente por esse motivo, está estampada nos jornais de ontem, na forma
de risco-país, cotação do dólar etc.
Mas, antes de festejar comigo a antecipação, o leitor, exigente como é,
deve cobrar: bom, e agora que os dois
"inimigos do mercado" parecem
consolidar-se no segundo turno?
À primeira vista, os mercados têm
duas formas de reação:
1 - Aumentam a aposta contra o
Brasil, na expectativa de agravar
mais a turbulência econômica e, por
meio dela, desestabilizar o presente
cenário eleitoral.
Não garante a volta de Serra ao segundo lugar, mas "perdido por perdido, truco".
2 - Trata de cooptar um dos dois
"inimigos" para as teses que o mercado considera adequadas. Um pouco desse exercício foi feito na primeira rodada de apostas, e gerou a "Carta ao Povo Brasileiro", em que o PT
se compromete com itens que são caros aos mercados.
Há uma variante, que é a de usar a
aposta mais forte para colocar de
joelhos todos os candidatos, tornando mais fácil a cooptação. No percurso, o país ficará de quatro, mas está
se vendo que mercados e países são
coisas absolutamente diferentes, não
raro incompatíveis.
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