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PERIGO MÉDICO
Há poucas ameaças mais graves para a saúde pública do
que médicos despreparados. Eles
não apenas são de pouco ou nenhum
auxílio na hora de tratar uma doença
grave como ainda podem fazer intervenções erradas -com conseqüências funestas- quando a patologia
não representa um perigo maior para o paciente.
Nesse contexto, são preocupantes
as declarações do professor José Antônio Franchini Ramires, diretor-geral do Incor (Instituto do Coração),
segundo as quais a realização de um
exame para aferir o nível técnico dos
médicos que se formam teria resultados "catastróficos". Para além da
possibilidade de ocorrerem imperícias mais graves, médicos que não
sabem bem o que fazem representam um nada desprezível custo para
o sistema de saúde, pois se esmeram
em requisitar exames desnecessários
e a receitar drogas dispensáveis.
A má formação dos profissionais
liga-se, é claro, a muitas causas, mas
a mais importante delas parece ser a
proliferação de escolas médicas que
ocorre sem critérios de excelência ou
mesmo de necessidade. O fenômeno
é bastante semelhante ao que se deu
com o direito e levou a OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) a instituir
o exame de ordem, sem o qual os bacharéis em ciências jurídicas estão
impedidos de exercer a advocacia. A
palavra "catastróficos" descreve bem
os resultados: na última versão da
prova em São Paulo, apenas 13% dos
candidatos foram aprovados. A média de aprovações nos últimos anos
tem ficado em torno de 20%. Segundo Ramires, se houvesse um exame
semelhante para a medicina, o quadro seria rigorosamente o mesmo.
Uma vez que os governos -tanto
este quanto o anterior- parecem incapazes de conter a multiplicação de
faculdades, a idéia de criar um exame
de habilitação para a prática da medicina é oportuna. Impedir que pessoas sem qualificação técnica se arrisquem a fazer diagnósticos, prescrever e até operar é elementar medida de saúde pública.
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