São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O ministro e a nudez do rei

MADRI - A falácia de que a política econômica do governo Lula é diferente da de seu antecessor e, ainda por cima, capaz de levar o Brasil a seu grande destino foi demolida no domingo não por alguém da oposição ou por algum "radical".
A demolição veio de um ministro do próprio governo que é, também, um dos principais ideólogos do partido, chamado Tarso Genro, em cristalino artigo para esta Folha.
Basta ler o parágrafo seguinte (atenção, leitor, não é meu, não):
"À fantasia de ruptura, que poderia levar o país ao "default", hoje deve suceder o reconhecimento da necessidade do início de uma transição. Isso significa sair de um modelo herdado, capaz de crescer concentrando renda, para uma nova situação estrutural: um processo de crescimento sustentado com distribuição de renda, fortalecimento e ampliação do mercado interno. Sem essa "transição", as conquistas fundamentais obtidas até agora poderão ser atraiçoadas pela reversão das mesmas condições que as possibilitaram: um ambiente externo favorável que pode mudar e uma taxa de juros americana mais do que moderada, que pode subir". Não deixa a menor dúvida, certo? Para conferir: 1 - O modelo é "herdado", logo não se trata de política própria. 2 - As "conquistas fundamentais" (devem ser o crescimento agora verificado e a estabilidade mantida) são facilmente reversíveis se mudar o ambiente externo. 3 - O modelo ("herdado") permite crescer, sim, mas o faz, como há séculos, "concentrando renda".
Por mais que se desdobre no texto em elogios ao presidente da República (não são muitos os que têm coragem de criticar o chefe), o que o ministro da Educação diz é simples: o rei (a política econômica, o PT, o governo) está nu, nuzinho da silva.
Agora, ou Tarso Genro é punido, como foram os mal chamados radicais, que, no fundo, diziam a mesma coisa, ou o governo muda de política. Não está conseguindo enganar nem mesmo aqueles que emprega.


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