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CLÓVIS ROSSI
O ministro e a nudez do rei
MADRI - A falácia de que a política econômica do governo Lula é diferente da de seu antecessor e, ainda
por cima, capaz de levar o Brasil a
seu grande destino foi demolida no
domingo não por alguém da oposição ou por algum "radical".
A demolição veio de um ministro
do próprio governo que é, também,
um dos principais ideólogos do partido, chamado Tarso Genro, em cristalino artigo para esta Folha.
Basta ler o parágrafo seguinte
(atenção, leitor, não é meu, não):
"À fantasia de ruptura, que poderia levar o país ao "default", hoje deve
suceder o reconhecimento da necessidade do início de uma transição. Isso significa sair de um modelo herdado, capaz de crescer concentrando
renda, para uma nova situação estrutural: um processo de crescimento
sustentado com distribuição de renda, fortalecimento e ampliação do
mercado interno. Sem essa "transição", as conquistas fundamentais obtidas até agora poderão ser atraiçoadas pela reversão das mesmas condições que as possibilitaram: um ambiente externo favorável que pode
mudar e uma taxa de juros americana mais do que moderada, que pode
subir". Não deixa a menor dúvida,
certo? Para conferir: 1 - O modelo é
"herdado", logo não se trata de política própria. 2 - As "conquistas fundamentais" (devem ser o crescimento agora verificado e a estabilidade
mantida) são facilmente reversíveis
se mudar o ambiente externo. 3 - O
modelo ("herdado") permite crescer,
sim, mas o faz, como há séculos,
"concentrando renda".
Por mais que se desdobre no texto
em elogios ao presidente da República (não são muitos os que têm coragem de criticar o chefe), o que o ministro da Educação diz é simples: o
rei (a política econômica, o PT, o governo) está nu, nuzinho da silva.
Agora, ou Tarso Genro é punido,
como foram os mal chamados radicais, que, no fundo, diziam a mesma
coisa, ou o governo muda de política.
Não está conseguindo enganar nem
mesmo aqueles que emprega.
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