|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LICITAÇÃO NO AR
Foi politicamente sensata a
decisão do presidente Fernando
Henrique Cardoso de esperar a definição de seu sucessor e ouvi-lo antes
de anunciar a escolha do consórcio
que deverá fornecer novos caças à
Força Aérea Brasileira (FAB). Em termos estritamente técnicos, o próximo presidente poderia, a qualquer
tempo, suspender o processo e modificá-lo inteiramente. A rigor, nem é
preciso fazer uma concorrência, pois
serviços atinentes à segurança nacional estão dispensados de licitação.
O mérito da iniciativa de FHC está
em evitar que os caças da FAB se tornem um tema equivocado de campanha. O PT, o PPS e José Serra -o que
representa três das quatro principais
candidaturas- já se manifestaram
favoráveis à escolha da Dassault/Embraer. A razão é a presença da companhia brasileira no consórcio.
Esse é realmente um fator a considerar, mas não deve, nem de longe,
ser determinante. Outras companhias brasileiras, como a Avibrás e a
Varig Engenharia, estão associadas a
outros consórcios. Todas as propostas, e não apenas a que envolve a Embraer, incluem a transferência de tecnologia para o Brasil. No mais, é preciso ter em mente que a Embraer não
é uma empresa estatal. Ela é uma
companhia privada, uma sociedade
anônima, em que grupos estrangeiros mantêm significativa participação. Pode até contar com a legítima
simpatia dos brasileiros, mas seus
interesses não podem ser confundidos com os interesses estratégicos
do Estado brasileiro.
O adiamento do anúncio do consórcio escolhido pela FAB pelo menos dará ao próximo presidente a
oportunidade de só pensar sobre o
assunto depois do pleito, sem as
pressões mercadológicas típicas de
uma campanha eleitoral.
O Brasil precisa substituir sua obsoleta esquadrilha de caças. Deve fazê-lo, como é óbvio, nas melhores
condições possíveis. O cronograma
da concorrência já está atrasado. A
essa altura, esperar dois meses para
garantir um pouco mais de serenidade ao processo de escolha parece
uma decisão acertada.
Texto Anterior: Editoriais: O NÓ FISCAL Próximo Texto: Editoriais: O CHOQUE SOCIAL Índice
|