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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Notas do mensalão
SÃO PAULO - 1. Tinha tudo para
ser como num filme americano,
mas o Brasil entrou pelos fundos,
avacalhando a cena do STF: "Esse
vai dar um salto social agora com
esse julgamento", escreveu ao colega Lewandowski a ministra Cármen Lúcia, referindo-se ao relator
do processo, Joaquim Barbosa. Não
havia nenhuma intenção racista na
observação. Somos assim -sutis.
2. A revelação da conversa entre
os dois ministros sugere (mas apenas isso) uma relação espúria entre
o Tribunal, ou parte dele, e o governo. Não se trata só de política, mas
de algo que vai além do que é moralmente aceitável. Daí a demonizar o
Supremo como metáfora ou síntese
das injustiças brasileiras ainda vai
uma boa distância.
3. As manobras (não apenas) retóricas e o jargão de bacharel do
"PIB do honorário" (os advogados
dos mensaleiros) são tão -ou
mais- esclarecedores do que é a
Justiça no país quanto as inconfidências dos ministros do Supremo.
4. Lula procura agir como se o julgamento do STF não existisse. Não
precisa de esforço. O presidente se
desconectou politicamente do escândalo. Ele e o mensalão parecem
hoje dois planetas distantes.
5. Se Dirceu nem sequer virar réu
(hipótese improvável, mas menos
do que já foi), isso vai dar ocasião
para a ladainha do governo "vitimado pelas elites" e trela a mais um capítulo da revanche do PT contra "os
golpistas". Mas -por outro lado-
que grande diferença fará para Lula
se Dirceu perder agora no STF?
6. Observação do professor e filósofo Ruy Fausto, ontem na Folha:
"Parte da opinião universitária "não
acredita" no mensalão, como se se
tratasse de um problema de crença
ou de fé -se o mensalão era quinzenal ou semestral, isso interessa
pouco, o essencial é que corrupção,
e grande, existiu".
7. Judiciário e jornalismo estiveram bastante expostos nos últimos
dias. Proveitoso para o leitor, bom
para a democracia.
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