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ALBA ZALUAR
Foco é
precisão
O DILEMA das políticas universalistas ou focais já foi
superado, visto que há um
acordo sobre a necessidade de políticas compensatórias para fazer
frente à desigualdade inicial observada nos setores destituídos da população.
Mas as políticas focais só são eficazes quando o diagnóstico da situação e a delimitação do setor populacional a ser beneficiado é preciso. Caso contrário, pode-se pensar que a compensação sirva mais
ao clientelismo político, cujo objetivo é sobretudo eleitoral. Neste caso, a compensação monetária pessoal torna-se prêmio pela lealdade
a um político ou governo.
O uso de categorias mal definidas, como mães da paz ou jovens
em estado de vulnerabilidade, deve
ser mais bem pensado para que o
Pronasci não perca o rumo da intervenção social.
Senão, vejamos. Alguém conhece mães que sejam da guerra? Que
mães estão excluídas da categoria
da paz? Em três décadas de pesquisa de campo, nunca encontrei
mães que estimulassem seus filhos
a participar de guerras de quadrilhas. Também não sei de mães que
incentivem seus filhos a andar de
moto, outro fator de risco para jovens vulneráveis à atração do consumo moderno por ser o maior
motivo para acidentes que oneram
o serviço público de saúde no Brasil. Foram esquecidos no Pronasci.
Deparei, porém, com tios e tias
que, com seu trabalho voluntário,
criaram encontros e conversas informais em locais públicos, associações recreativas, religiosas ou de
moradores, times esportivos etc. E
todos os jovens que gravitavam em
torno de quadrilhas sempre afirmaram que a vontade de acabar
com o sofrimento de suas mães era
o principal motivo para saírem da
vida bandida.
Não seria mais sensato o apoio financeiro a projetos, aliás já existentes, que se valem do trabalho
voluntário ou pago de pessoas treinadas para ajudar tais jovens a mudar de vida? Não já está claro que a
cultura cívica do respeito ao outro,
do diálogo e da eqüidade deveria
estar sendo difundida em todas as
escolas, associações e meios de comunicação de massa? Apostar em
mediadores já faz parte de muitos
projetos existentes pelo país afora.
Por fim, jovens vulneráveis, além
de armas, valorizam o uso de drogas ilegais das quais perdem o controle. Usuários fissurados, especialmente no crack, fazem subir as
estatísticas criminais, como aconteceu em São Paulo e em Belo Horizonte na década de 90. No Rio de
Janeiro, a presença mais recente
desta droga já aumenta os assaltos
e homicídios. Não há nada no Pronasci sobre a prevenção e tratamento desses usuários. E se o dinheiro recebido por alguns deles
for usado para pagar o vício?
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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