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JOSÉ SARNEY
Pesquisas que falam
É de autor maldito, o ditador Franco, a afirmação de
que, como fazia pesquisa, sabia que o povo estava a seu lado e não ia gastar dinheiro em
fazer eleição. Ele identificou
prematuramente, mas de modo equivocada e maléfico, um
dos instrumentos que mais
marcam as democracias modernas: as pesquisas eleitorais. Quem está no governo e
lê os resultados -aprova, desaprova, bom, ruim e péssimo- sente calafrios.
Elas servem como atestado
de legitimidade. Cada vez
mais sofisticadas, são capazes
de detectar as diversas camadas da alma popular, ou, como dizem alguns institutos, a
temperatura da opinião pública. Aplica-se também ao povo
um medidor da atmosfera da
Terra: um barômetro. Não é
por acaso que um dos braços
do PNUD para tomar o pulso
de nosso continente se chama
Barômetro Latino-Americano.
Assim, não há como desconhecer a influência das pesquisas e a hipocrisia do chavão dos atingidos pelos índices baixos: "pesquisa é o retrato de um momento, não tem
votos". Mas são elas que estão
na mesa dos candidatos e na
preocupação dos marqueteiros ao fazerem os programas.
Ao jogar os seus "produtos"
no ar, todos correm para os
"grupos de análise", as "qualitativas", para saber sua opinião, o que colou, o que não
teve efeito e o que não agradou. E esses grupos, para serem formados, são precedidos
de outras pesquisas, que definem idade, nível de educação,
nível de envolvimento, eleitor
isento, engajado, contrário.
O resultado do conjunto das
pesquisas orienta as manipulações: hora de bater, de informar, de distorcer, de exaltar,
de alegrar, hora da razão, da
emoção.
Para isso, haja dinheiro para contratar e manter em funcionamento a equipe das melhores inteligências, dos mais
capazes, os equipamentos de
última geração, operadores,
analistas, pesquisadores, sociólogos, politicólogos, jornalistas, redatores, maquiadores, diretores -e, por trás de
tudo, a turma do dossiê, "da
maldade", que, conjugada
com os jornalistas de investigação, vivem à cata do fato sujo, do escândalo, do provérbio
da politicagem "onde não tem
rabo a gente põe".
Desapareceram os cabos
eleitorais, as eleições a cacete
do Império, e nasceu a eleição
eletrônica, que matou o comício, os partidos, os candidatos
e até os eleitores.
Não há justiça eleitoral,
nem tutela legal, nem centurião do Ministério Público,
nem "007" da PF para evitar
esse caminho, que só se reverterá quando vier um novo sistema, com democracia direta
ou o amadurecimento da humanidade, capaz de exercer
em sua plenitude a liberdade,
onde tudo será permitido, até
o direito de cada um escolher,
decidir e julgar conforme sua
consciência.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
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