São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2011

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RUY CASTRO

De pato a marreca

RIO DE JANEIRO - Os atores sabem: não se deve contracenar com crianças e animais. Eles roubam a cena. E não importa quem você -ou o animal- seja. Vide, na antiga Hollywood, o cavalo Trigger, o chimpanzé Chita e o mulo Francis. O próprio James Stewart perdeu para um coelho invisível em "Meu Amigo Harvey" (1950). O único empate até hoje foi entre Ronald Reagan e o macaco Bonzo, em "Bonzo no Colégio" (1951).
Esta semana fiz minha estreia (e simultânea despedida) como ator de cinema. Vou aparecer em "Agamenon - O Filme", a cinebiografia do jornalista Agamenon Mendes Pedreira, uma espécie de Chateaubriand moderno, só que corrupto. É uma produção do "Casseta & Planeta", o que explica minha presença no elenco ao lado de profissionais como Luana Piovani e Fernanda Montenegro. Faço o "biógrafo não autorizado" de Agamenon.
Por artes do enredo, há uma cena em que contraceno com um pato. Um pato de verdade chamado Vítor, já com razoável experiência em cinema. Nas várias vezes em que errei e tivemos de repetir, Vitor foi tolerante comigo. Além de me roubar a cena take após take.
De repente, um choque. Patrícia, veterinária responsável por Vítor, me confidenciou que ele não é bem um pato, mas um marreco. E o que costumamos ver no cinema como patos, por causa do pato Donald, são quase sempre marrecos -a começar pelo próprio Donald! (Patos de verdade têm uma membrana vermelha no bico; Donald, não.) Outro choque: não será surpresa se Donald, além de marreco, for... fêmea! Só os marrecos-fêmeas têm aquele rabicho proeminente e sacolejante, como o que Donald exibe em seus desenhos animados.
O criador de Donald para Walt Disney foi o grande Carl Barks. O qual, como tantos empregados da Disney, odiava Walt. Se foi de propósito que Barks fez de Donald uma marreca, que sublime vingança.


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