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CLÓVIS ROSSI
Walfrido, quero o meu
SÃO PAULO - Descobri o caminho
para realizar o sonho de ser setorista da "Champions League", o campeonato europeu de clubes, o mais
importante do mundo: basta pedir
ao ministro Walfrido dos Mares
Guia os mesmíssimos R$ 500 mil
que ele emprestou ao hoje senador
Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
Com esse dinheiro, dá para passar na Europa os seis meses que dura o torneio e ainda levar o Rodrigo
Bueno, que já se ofereceu para me
acompanhar e é quem de fato entende dessas coisas.
Se sobrou algum leitor capaz ainda de abismar-se com absurdos, logo gritará: Ei, mas você está se vendendo. Sim, é disso que se trata.
Emprestar dinheiro a alguém e não
cobrar jamais é comprar esse alguém. Tomar dinheiro emprestado,
afirmando com todas as letras que
não pagou nem vai pagar, é vender-se. Ponto.
Walfrido dos Mares Guia já disse
que não vai cobrar (afinal, é rico o
suficiente para dispensar uma ninharia como R$ 500 mil). E Eduardo Azeredo acaba de dizer à Folha
que não vai pagar.
Estamos, pois, ante uma operação de compra e venda. O notável é
que ela não desperta emoções. Fica
todo mundo discutindo se foi caixa
dois ou mais que isso, o que é importante e necessário discutir, criticar, o diabo. Mas caixa dois ou uso de dinheiro público para benefícios
privados se tornou tão comum na
política brasileira que quase, quase,
provoca bocejos.
O caso dos R$ 500 mil é que parece novidade. Ao menos parece novidade vendedor e comprador admitirem a operação sem nenhum
constrangimento, como se fosse
natural na vida pública.
Se eu de fato recebesse, para jamais pagar, R$ 500 mil de Walfrido
dos Mares Guia (ou de qualquer outro mecenas), a contrapartida óbvia
seria ou falar bem dele ou, no mínimo, não criticá-lo.
Qual é a contrapartida na doação
a Eduardo Azeredo?
crossi@uol.com.br
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