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Falta de gás
Incerteza no suprimento de combustível boliviano a termelétricas lança alerta, mas fantasma de apagão parece distante
O TÉRMINO do prazo para
negociação de novos
contratos de exploração de gás e petróleo
pela Petrobras na Bolívia, amanhã, oferece oportunidade para
reflexão sobre a política energética brasileira. Para além da óbvia necessidade de reduzir a dependência desse fornecedor de
gás natural, diante da instabilidade cultivada por Evo Morales,
é fundamental sinalizar que a
energia não será mais um fator a
desacelerar a economia.
Infundir tal confiança, por
meio de um planejamento cuidadoso e transparente, constitui
uma das principais tarefas do governo federal. Ela sofreu algum
abalo em setembro, quando o
Operador Nacional do Sistema
(ONS) solicitou a operação de 11
usinas termelétricas e estas só
entregaram um quinto da energia demandada. Faltou gás natural, como se previa havia meses
no mercado, mas existem razões
para crer que sobrou precipitação em estimativas de até 50% de
risco de apagão já em 2008.
Os fatores preponderantes para cálculo de risco ao suprimento
permanecem sendo o volume de
chuvas e o nível dos reservatórios das hidrelétricas, responsáveis ainda por 85% da matriz
energética nacional. Os restantes 15% são atendidos quase exclusivamente por termelétricas,
entre as quais o gás natural ganhou preponderância como fonte energética a partir de 2003,
superando os outros combustíveis (derivados de petróleo, carvão, urânio e biomassa). Apesar
da importância crescente, parece duvidoso que uma falha previsível em seu fornecimento possa
vir a ameaçar a estabilidade do
sistema em menos de dois anos.
Ao menos, é isso que argumenta o Ministério de Minas e Energia (MME) em nota divulgada há
três dias. Afirma-se ali que as dificuldades encontradas afetam
7% da oferta total disponível de
energia, que elas estão sendo resolvidas e que os reservatórios
das hidrelétricas exibem níveis
seguros. O comunicado pondera
que estão planejadas medidas
para normalizar o suprimento às
térmicas até 2011, como implantar novos gasodutos, mais que
duplicar a produção nacional
(para 70 milhões de metros cúbicos diários) e construir estações
para gás natural liquefeito.
Ocorre que, somente para tais
providências, o governo projeta
investimentos de US$ 22 bilhões, de 2007 a 2011. Caso não
se materializem, ou só parcialmente, cairá a confiança nessa
reserva de segurança energética.
Há que ter em mente, além do
mais, o contexto de planejamento energético para além das usinas a gás. No início de novembro,
o Ibama deve realizar as audiências públicas para debate das polêmicas hidrelétricas Jirau e
Santo Antônio, no rio Madeira.
As audiências são passos legalmente indispensáveis da liturgia
de licenciamento ambiental, que
não deve ser atropelada para sanar eventuais falhas de planejamento nem para aplacar o apetite por grandes projetos.
Isso para não mencionar a ressurrecta idéia de enfim construir
a termelétrica nuclear de Angra-3, que conta com apoio crescente
em setores do governo Lula. Nada como um fantasma do porte
do apagão para conjurar outros
espectros de volta à vida.
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