|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Day after
SÃO PAULO - Corre o risco de parecer frívolo ou lunático quem se
dispõe a comentar o saldo das eleições sem olhar para o mundo sombrio da economia. Marx dizia que a
história se faz às vezes pelas costas
e à revelia dos homens. Deve estar
certo quem pensa que os resultados
municipais terão efeito muito menor sobre a vida das pessoas do que
o estrago que o terremoto na finança global apenas começa a produzir.
Até Zé Carioca, o papagaio de Geraldo Alckmin, já está desconfiado
de que, muito mais do que a estrondosa vitória de Gilberto Kassab, o
grande cabo eleitoral da oposição
deve ser a crise econômica. À medida que ela tire o gás de Lula até o final do mandato, estará enchendo o balão da candidatura Serra.
Parece banal demais? Quando o
resultado das urnas decantar, é possível que se perceba sob a montanha de números algo simples e óbvio: a consolidação do Partido do
Lula e do Partido do Serra, em torno dos quais irão orbitar, como satélites e coadjuvantes, os partidos
reais e o jogo político até 2010.
Há, entre Lula e Serra, o PMDB,
que sai das urnas fortalecido, sem
nome próprio para se apresentar
como opção de poder, mas grande e
capilarizado o bastante para fazer
com que o favoritismo da disputa
penda para um ou para outro lado.
Há quase 30 anos no governo e na
oposição ao mesmo tempo, o partido anfíbio e sem caráter está com
Serra/Kassab em São Paulo e com
Lula no país. Quem dá mais? Quem
é que vai levar Geni para o altar?
Maior vitorioso desta eleição,
Serra por ora apenas incorporou ao
currículo o título de grande fiador e
maestro da direita que se reorganizou em São Paulo sob sua batuta e
sobre os escombros do malufismo.
Ou ninguém sabia o que havia dentro do Kassabão, o boneco inflável?
A face real do kassabismo deve
ser algo como o negativo cruel da
imagem infantilizada da foto da vitória, em que o prefeito aparece ao
lado de papai Serra e um monte de
criancinhas -todos seus irmãozinhos no reino da fantasia eleitoral.
Texto Anterior: Editoriais: Pânico passageiro
Próximo Texto: Washington - Fernando Rodrigues: Três partidos Índice
|