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CARLOS HEITOR CONY
Momento de verdade
RIO DE JANEIRO - Problema inaugural para o novo governo: a equipe de
transição, apesar da cordialidade reinante entre os que chegam e os que
saem, terá de optar entre a tática e a
verdade. Como ficou público e notório, a campanha eleitoral do PT nos
dois turnos foi centrada numa crítica
contundente e genérica ao governo
FHC. Com um discurso oposicionista,
que não poupou nenhum setor da
administração que se finda, Lula e os
seus aliados conseguiram a espetacular votação que, na mais simpática
das hipóteses, confirma a autenticidade e a oportunidade das críticas
feitas aos oito anos de tucanato.
O momento de verdade está chegando. O pessoal da transição, até
agora, tem evitado qualquer tipo de
confronto. Apesar do tom civilizado
mantido entre as duas equipes, a
oposição terá de transmitir à nação o
quadro real que vai encontrar daqui
a dois meses.
E, de duas, uma: ou vai mostrar o
caos que lubrificou o discurso eleitoral, ou baterá no peito, confessando
que exagerou ou mentiu durante toda a campanha. Em linhas gerais, a
oposição chega ao poder porque soube explorar as graves lacunas administrativas e sociais do governo que se
finda. E teve habilidade suficiente
para transmitir ao eleitorado os pontos negativos da gestão tucana, que
criaram o cenário para a vitória de
Lula.
A cordialidade das equipes que
operam a transição tem prazo certo
para terminar. Ou a turma de Lula
admite que foi injusta, eleitoreira e
mentirosa, acusando o governo de erros agudos e prioridades nefastas, ou
manterá o som e a fúria do discurso
oposicionista, revelando que a herança deixada por FHC é bem pior do
que a esperada.
Numa palavra: o PT será a alternativa de poder que o eleitorado consagrou? Ou prolongará por mais quatro
anos os erros e os equívocos que tanto
combateu?
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