São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A comercialização dos serviços educativos ARTHUR ROQUETE DE MACEDO
Os efeitos do processo de globalização sobre a educação não devem
ser minimizados e muito menos ignorados; são irreversíveis e seu potencial de
transformação é cada vez maior. Esses
efeitos devem ser permanente e cuidadosamente avaliados por todos aqueles
que se interessam em preservar a qualidade da educação e os valores socioculturais regionais e nacionais que ela expressa.
Ao analisarmos a importância da educação superior no aspecto econômico, entendemos a posição da OMC e dos países exportadores de programas e de tecnologias na área da educação e da capacitação de recursos humanos. O banco norte-americano Merrill Lynch calculou o mercado mundial do conhecimento pela internet em US$ 9,4 bilhões no ano 2000 e estimou que esse valor poderá, em três anos, alcançar a cifra de US$ 55 bilhões. A revista "Exame", em abril do corrente ano, salienta que os negócios diretamente ligados à educação, em nosso meio, movimentam anualmente R$ 90 bilhões. Outros dados poderiam ser relacionados para mostrar o impacto comercial do setor educacional. Seria desnecessário -o empenho da OMC e de grupos ligados a agências internacionais em colocar a educação como um dos doze setores de serviço incluídos no Gats deixa clara a questão. Essa linha de atuação não é isenta de riscos; dentre os quais merecem ser destacados: a uniformização do ensino superior, com perda dos enfoques regionais específicos; o enfraquecimento dos laços culturais e a desvinculação às necessidades e aos interesses nacionais; o aumento da possibilidade de difusão dos sistemas de franquias; a decadência das instituições educacionais e de formação de recursos humanos dos países em desenvolvimento; a utilização de recursos públicos para o financiamento de grupos estrangeiros que comercializem o ensino superior; a subordinação dos interesses estratégicos de nações independentes às regras do Gats. Felizmente, essas ameaças poderão ser evitadas se a reação de associações universitárias importantes e representativas receber o apoio da comunidade acadêmica e científica internacional e dos 180 países que assinaram a Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século 21. Na verdade, o poder de regulamentar o ensino superior deve permanecer com o Estado, devendo cada país, de forma soberana, delegá-lo total ou parcialmente, quando conveniente, ao setor privado, deixando claro que esta concessão não o descaracteriza de maneira nenhuma como um bem público que deve ser usufruído de forma universal pelos seus cidadãos. Particularmente, sou partidário da coexistência dos sistemas público e privado sob regulamentação e fiscalização do Estado, devendo a educação superior acompanhar a globalização, mas jamais ser por ela determinada, sob o risco de perda da nossa identidade cultural e do distanciamento das necessidades do país e dos anseios da sociedade brasileira. Arthur Roquete de Macedo, 59, ex-reitor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e diretor da Cesgranrio-SP, é presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Raul Cutait: Um câncer curável Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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