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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Tentação autoritária
SÃO PAULO - A idéia ventilada
pelo petismo de que a reeleição de
Lula representou a vitória das forças populares e progressistas contra os senhores do atraso e os guardiões do conservadorismo é de um
simplismo ofensivo à inteligência.
Seria preciso ignorar quem são os
parceiros políticos de Lula; seria
preciso ignorar no que se transformou o próprio PT (uma máquina
burocrática a serviço do novo patrimonialismo sindical, um instrumento para conferir vantagens a
seus membros); seria preciso ainda
ignorar o que foi o primeiro governo Lula e sua infinita capacidade de
acomodar interesses sem resolver
conflitos, tudo resultando num jogo
de soma zero, sem crescimento ou
distribuição de renda.
Se não desobstruiu a economia, a
reeleição de Lula voltou a destravar
o pendor autoritário do petismo e
de amplos setores do governo. Notória em várias passagens deste
mandato, essa tentação se viu obrigada a hibernar depois do mensalão, por força dos fatos. Ela voltou,
com grau inédito de excitação.
O próprio Lula dá sua contribuição ao clima despótico quando pede
aos governadores eleitos que não
lhe façam oposição até 2010. Ou
quando lista a legislação ambiental,
os órgãos encarregados de fiscalizar
os atos do Executivo e a própria
oposição como entraves "naturais
da democracia" para seu sonho tardio de crescer. Alguns dirão que o
presidente não falava a sério -embora o assunto e o cargo exigissem.
Lula brinca, mas não seus áulicos.
É famosa a frase do vice-presidente
Pedro Aleixo, quando, na reunião
que decretou o AI-5, discorria sozinho contra a medida e foi interrompido por Gama e Silva, então ministro da Justiça: "Dr. Pedro, o sr. desconfia das mãos honradas do presidente, aqui presente?" E a resposta:
"Não ministro, eu desconfio é do
guarda da esquina".
Guardemos estas palavras, ao lado do que disseram na semana passada -sobre e para jornalistas- o
presidente da Petrobras e o presidente do PT. Serão eles comissários
do povo ou guardas da esquina?
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