São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

E fez-se o caos

SÃO PAULO - Mauro Zafalon, talvez o jornalista que mais sabe lidar com números na mídia brasileira, mergulhou no seu baú para tirar estatísticas comparativas que provam minha sensação empírica: o megainvestidor George Soros é um profeta. Profeta do caos, é verdade, mas, em todo o caso, profeta.
Se alguém ainda se lembra, Soros disse à Folha, no comecinho de junho, que, ou o Brasil elegia José Serra, ou seria o caos.
Vamos, pois, aos números:
1 - O dólar, no dia em que foi publicada a reportagem com Soros, estava em R$ 2,636. Ontem, ficou nas vizinhanças de R$ 3,55.
Valorizou-se, pois, na comparação com a moeda brasileira, praticamente 35%, uma pancada e tanto.
2 - O risco-país, que mede o quanto um dado país tem de pagar a mais de juros sobre as taxas cobradas pelos Estados Unidos, estava nos 1.181 pontos quando Soros fez a afirmação.
Agora, saltou para 1.421 pontos. Aumentou, portanto, uns 20%, o que também não é pouco, ainda mais porque já se situava acima dos mil pontos, um patamar intolerável.
3 - Os juros básicos estavam em 18,5% e foram para 25%. Dispensa comentários.
4 - A inflação de maio, pelo IPCA (o índice que o governo usa para suas metas de inflação), fora de 0,21% e, no acumulado nos 12 meses até as vésperas do palpite de Soros, batera em 7,77%.
Em novembro, último mês completo já transcorrido, o IPCA mensal foi para 3,02%, ou seja, multiplicou-se quase por 14, ao passo que o acumulado em 12 meses está em 10,93%.
Em resumo, pode não ter havido o caos porque o eleitorado desobedeceu a Soros. Mas que os mercados financeiros fizeram um belo estrago, lá isso fizeram, ajudados, é claro, pelas debilidades intrínsecas da economia.
Como eu mesmo observei a Soros, na época, esse não é um comportamento lá muito democrático. Não creio que os mercados se comovam.


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