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CLÓVIS ROSSI
E fez-se o caos
SÃO PAULO - Mauro Zafalon, talvez
o jornalista que mais sabe lidar com
números na mídia brasileira, mergulhou no seu baú para tirar estatísticas
comparativas que provam minha
sensação empírica: o megainvestidor
George Soros é um profeta. Profeta do
caos, é verdade, mas, em todo o caso,
profeta.
Se alguém ainda se lembra, Soros
disse à Folha, no comecinho de junho, que, ou o Brasil elegia José Serra,
ou seria o caos.
Vamos, pois, aos números:
1 - O dólar, no dia em que foi publicada a reportagem com Soros, estava
em R$ 2,636. Ontem, ficou nas vizinhanças de R$ 3,55.
Valorizou-se, pois, na comparação
com a moeda brasileira, praticamente 35%, uma pancada e tanto.
2 - O risco-país, que mede o quanto
um dado país tem de pagar a mais de
juros sobre as taxas cobradas pelos
Estados Unidos, estava nos 1.181 pontos quando Soros fez a afirmação.
Agora, saltou para 1.421 pontos.
Aumentou, portanto, uns 20%, o que
também não é pouco, ainda mais
porque já se situava acima dos mil
pontos, um patamar intolerável.
3 - Os juros básicos estavam em
18,5% e foram para 25%. Dispensa
comentários.
4 - A inflação de maio, pelo IPCA (o
índice que o governo usa para suas
metas de inflação), fora de 0,21% e,
no acumulado nos 12 meses até as
vésperas do palpite de Soros, batera
em 7,77%.
Em novembro, último mês completo já transcorrido, o IPCA mensal foi
para 3,02%, ou seja, multiplicou-se
quase por 14, ao passo que o acumulado em 12 meses está em 10,93%.
Em resumo, pode não ter havido o
caos porque o eleitorado desobedeceu
a Soros. Mas que os mercados financeiros fizeram um belo estrago, lá isso
fizeram, ajudados, é claro, pelas debilidades intrínsecas da economia.
Como eu mesmo observei a Soros,
na época, esse não é um comportamento lá muito democrático. Não
creio que os mercados se comovam.
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