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São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 2003

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NOVAS DÍVIDAS

A política monetária e fiscal contracionista implementada pelo governo contou com o auxílio da abundância de recursos no mercado internacional, alimentada pelas baixas taxas de juros nas economias desenvolvidas e pelas intervenções nos mercados cambiais asiáticos, para promover uma forte queda do risco-país -que passou de 1.439 pontos para 480 pontos ao longo do ano. Diante disso, empresas e bancos brasileiros voltaram com vigor ao mercado financeiro internacional.
Entre janeiro e meados de dezembro, as captações atingiram US$ 20,7 bilhões, mediante bônus e empréstimos. Dados preliminares indicam que US$ 17,9 bilhões foram captados pelo setor privado. É quase o dobro do volume verificado em 2002 (US$ 10,6 bilhões), quando o mercado internacional praticamente fechou as portas para os agentes brasileiros.
Acompanhando o aumento do volume, houve melhora significativa no perfil das emissões, com maiores prazos e menores taxas, sobretudo para empresas que podem oferecer parte do fluxo de comércio exterior como garantia. No primeiro trimestre, os bônus tinham prazo médio de 1,2 ano; no quarto, de 7,7 anos.
O acesso ao mercado internacional é promissor, uma vez que permite refinanciar a dívida passada em melhores condições. Todavia recoloca a ameaça de um novo ciclo de endividamento externo da economia brasileira. De acordo com o BC, a dívida externa do setor privado caiu de US$ 101,6 bilhões em dezembro de 1999 para US$ 76,5 bilhões em agosto de 2003 (último dado disponível). Ao contrário, a dívida do setor público subiu de US$ 97,4 bilhões para US$ 117,8 bilhões, no mesmo período, com os aportes do FMI.
O fato de os agentes domésticos trabalharem com reais, mas mantendo dívidas em dólares, pode ocasionar perturbações patrimoniais relevantes em um momento de reversão do ciclo de liquidez internacional. O desequilíbrio patrimonial das distribuidoras de energia elétrica, com impactos nas tarifas e no balanço do BNDES, é um exemplo bastante eloquente desse risco. Nesse contexto, manter o saldo comercial, que se aproxima dos US$ 26 bilhões, bem como procurar estimular fontes internas de financiamento, é uma atitude prudente e recomendável.


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