|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
KENNETH MAXWELL
Tapetes mágicos
NO TREM que me conduziu
de Londres a Devon esta semana para passar o Natal
com minha família, reparei em
uma manchete estranha no "Daily
Telegraph": "Tapetes mágicos não
são apenas fantasia, diz professor
de Harvard".
Aparentemente, as pesquisas do
professor Lakshminarayanan Mahadevan, da escola de engenharia e
ciências aplicadas, demonstraram
a possibilidade teórica de que um
tapete ondulando ao vento seja aerodinamicamente capaz de decolar
e avançar céu afora.
Não seria um passeio agradável,
já que a ondulação teria de ser bastante violenta, para que o veículo
atingisse velocidade apreciável. E
um propulsor poderoso seria necessário para gerar a ondulação em
um tapete de tamanho suficiente
para carregar uma pessoa.
Assim, por enquanto, isso continua no reino do virtual. O que representa pequeno alívio para aqueles que preferem a magia, no Natal.
O professor Edward Said (1935-2003) fez de "orientalismo" uma
palavra "feia". Já há algum tempo
venho refletindo que um dos efeitos colaterais das ações de George
W. Bush em sua guerra no Iraque
será eliminar Bagdá como cenário
romântico para histórias infantis.
O lugar em que Rudolfo Valentino
foi "o ladrão de Bagdá"; em que
Aladim esfregou sua lâmpada mágica; e em que as antigas histórias
árabes como as das "Mil e Uma
Noites" falavam de tapetes de seda
verde voando pelos ares carregando figuras como o rei Salomão e seu
séquito de potentados enfeitados
com jóias e turbantes.
Mas, ao que parece, estou completamente errado quanto a isso.
Meus dois jovens sobrinhos-netos
me explicaram a questão. Com idades de 18 meses e três anos, respectivamente, eles parecem estar inteiramente a par da magia árabe.
Estou falando da região rural de
Devon, claro, e talvez fosse possível
pensar que os meninos sejam menos sofisticados que as crianças urbanas convencionais. Mas são dois
meninos muito cosmopolitas; vivem em Londres, têm ascendência
anglo-sueca; e já passaram uma
temporada em Nova York. Por isso,
considero que a opinião deles sobre esse tipo de assunto é decisiva.
Existe, no entanto, uma aplicação prática para a pesquisa de Harvard que não deveríamos desconsiderar.
De acordo com o "Daily Telegraph", os cientistas aplicaram
sua teoria apenas a um objeto do
tamanho de uma nota de dinheiro
vibrando 10 vezes por segundo.
Talvez, se o professor Mahadevan
vender sua patente ao Tesouro dos
Estados Unidos, a descoberta dele
possa ajudar a manter o dólar norte-americano em vôo durante alguns meses, impedindo que perca
ainda mais valor em 2008.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A tese e a prática Próximo Texto: Frases
Índice
|