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TENDÊNCIAS/DEBATES
A atual estratégia de combate a enchentes urbanas na região metropolitana de São Paulo é adequada?
SIM
Um novo paradigma
ALUISIO PARDO CANHOLI
O ENORME desenvolvimento
em planejamento, estudos e
projetos de drenagem urbana
verificado na região metropolitana de
São Paulo (RMSP), notadamente nos
últimos 15 anos, transformou a região
em um dos pólos mais avançados na
concepção e aplicação de técnicas
inovadoras de controle de enchentes
em nível mundial. Os resultados obtidos até aqui permitem afirmar, sem
sombra de dúvida, que estamos trilhando uma rota acertada na busca da
redução dos riscos das enchentes associadas às grandes precipitações que
assolam a região em todo o verão.
E o que mudou?
Primeiro, a mudança de paradigma
que foi a adoção de obras de reservação, nas suas diversas modalidades,
sobretudo os reservatórios de controle de cheias, em detrimento das obras
de canalização. Isso ocorreu em São
Paulo após o inicio da operação exitosa do reservatório do Pacaembu, de
onde adveio o termo "piscinão".
Em épocas ainda não tão distantes,
na RMSP multiplicaram-se as canalizações e as retificações de córregos
realizadas para a construção das avenidas de "fundo de vale". Os canais espremidos entre ou sob as vias tiveram
suas velocidades aumentadas, o que
inflou em até seis vezes os picos de
cheia, ampliação bem superior aquela
devida à impermeabilização, tida pelos menos avisados como a grande vilã das enchentes.
Em segundo lugar, é preciso louvar
a realização, em 1998, pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica
(DAEE), do Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê.
Praticamente toda a RMSP localiza-se em uma única bacia hidrográfica, a do Alto Tietê. Toda a drenagem
dessa região de quase 2.000 km2 de
área urbana, 39 municípios e quase
20 milhões de habitantes encaminha-se para um único escoadouro, o
rio Tietê, o que torna a questão complexa e de caráter metropolitano.
A visão integrada do plano diretor,
que adotou a bacia como unidade de
planejamento, tornou possível recomendar e priorizar obras e ações corretivas e preventivas, evitando as intervenções pontuais responsáveis
outrora pelo simples deslocamento
dos pontos de enchente.
O critério básico adotado pelo plano foi o das vazões de restrição. A
partir da cheia máxima suportável
pelo Tietê -e sucessivamente para os
demais rios-, definiram-se os limites
da adução por cada afluente. Em todos os casos foi necessária a reservação nos afluentes para obedecer a esses critérios.
Como as restrições eram severas,
as reservações recomendadas foram
significativas, como na bacia do Tamanduateí, de 7,7 milhões de m3, dos
quais já implantados mais de 4 milhões de m3pelo DAEE e pelas prefeituras. No Aricanduva, dos previstos
2,2 milhões de m3, já estão implantados pela Secretaria de Infra-Estrutura Urbana e Obras da Prefeitura de
São Paulo perto de 1,5 milhão de m3.
Em suma, a RMSP já conta com
cerca de 7 milhões de m3 em mais de
40 reservatórios, o equivalente a cem
piscinões do Pacaembu.
Atualmente, muitas outras obras
vêm sendo implantadas na RMSP, todas elas seguindo o plano diretor, como no Aricanduva, onde está sendo
implantada obra pioneira em nível
nacional visando a redução de velocidades no canal, além da construção
de "polders" nas áreas mais baixas; e
no Pirajussara constrói-se um piscinão de 500 mil m3.
Outro avanço significativo em época recente refere-se ao sistema de
alerta às inundações em operação no
município de São Paulo, efetuado pela Centro de Gerenciamento de
Emergências da prefeitura, além do
Sistema de Alerta às Inundações,
com apoio de radar meteorológico.
As áreas críticas sujeitas a inundações ainda são significativas, os déficits ainda são enormes, muito ainda
há de se fazer, notadamente em termos de ações estruturais (obras),
complementadas por ações de educação ambiental e medidas não-estruturais, visando sua sustentabilidade.
Porém, os avanços observados tanto no aspecto institucional, com o
planejamento e as ações empreendidas de forma integrada e em nível
metropolitano, como no aspecto técnico, dadas as inovações tecnológicas
já implementadas, permitem ser otimista com relação aos bons resultados que já vêm sendo e serão paulatinamente obtidos no combate às enchentes na região metropolitana de
São Paulo.
ALUISIO PARDO CANHOLI , doutor em engenharia hidráulica pela USP, é diretor da Hidrostudio Engenharia e autor do livro "Drenagem Urbana e Controle de Enchentes" (Oficina de Textos).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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