São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A atual estratégia de combate a enchentes urbanas na região metropolitana de São Paulo é adequada?

SIM

Um novo paradigma

ALUISIO PARDO CANHOLI

O ENORME desenvolvimento em planejamento, estudos e projetos de drenagem urbana verificado na região metropolitana de São Paulo (RMSP), notadamente nos últimos 15 anos, transformou a região em um dos pólos mais avançados na concepção e aplicação de técnicas inovadoras de controle de enchentes em nível mundial. Os resultados obtidos até aqui permitem afirmar, sem sombra de dúvida, que estamos trilhando uma rota acertada na busca da redução dos riscos das enchentes associadas às grandes precipitações que assolam a região em todo o verão.
E o que mudou?
Primeiro, a mudança de paradigma que foi a adoção de obras de reservação, nas suas diversas modalidades, sobretudo os reservatórios de controle de cheias, em detrimento das obras de canalização. Isso ocorreu em São Paulo após o inicio da operação exitosa do reservatório do Pacaembu, de onde adveio o termo "piscinão".
Em épocas ainda não tão distantes, na RMSP multiplicaram-se as canalizações e as retificações de córregos realizadas para a construção das avenidas de "fundo de vale". Os canais espremidos entre ou sob as vias tiveram suas velocidades aumentadas, o que inflou em até seis vezes os picos de cheia, ampliação bem superior aquela devida à impermeabilização, tida pelos menos avisados como a grande vilã das enchentes.
Em segundo lugar, é preciso louvar a realização, em 1998, pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), do Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê.
Praticamente toda a RMSP localiza-se em uma única bacia hidrográfica, a do Alto Tietê. Toda a drenagem dessa região de quase 2.000 km2 de área urbana, 39 municípios e quase 20 milhões de habitantes encaminha-se para um único escoadouro, o rio Tietê, o que torna a questão complexa e de caráter metropolitano.
A visão integrada do plano diretor, que adotou a bacia como unidade de planejamento, tornou possível recomendar e priorizar obras e ações corretivas e preventivas, evitando as intervenções pontuais responsáveis outrora pelo simples deslocamento dos pontos de enchente.
O critério básico adotado pelo plano foi o das vazões de restrição. A partir da cheia máxima suportável pelo Tietê -e sucessivamente para os demais rios-, definiram-se os limites da adução por cada afluente. Em todos os casos foi necessária a reservação nos afluentes para obedecer a esses critérios.
Como as restrições eram severas, as reservações recomendadas foram significativas, como na bacia do Tamanduateí, de 7,7 milhões de m3, dos quais já implantados mais de 4 milhões de m3pelo DAEE e pelas prefeituras. No Aricanduva, dos previstos 2,2 milhões de m3, já estão implantados pela Secretaria de Infra-Estrutura Urbana e Obras da Prefeitura de São Paulo perto de 1,5 milhão de m3.
Em suma, a RMSP já conta com cerca de 7 milhões de m3 em mais de 40 reservatórios, o equivalente a cem piscinões do Pacaembu.
Atualmente, muitas outras obras vêm sendo implantadas na RMSP, todas elas seguindo o plano diretor, como no Aricanduva, onde está sendo implantada obra pioneira em nível nacional visando a redução de velocidades no canal, além da construção de "polders" nas áreas mais baixas; e no Pirajussara constrói-se um piscinão de 500 mil m3.
Outro avanço significativo em época recente refere-se ao sistema de alerta às inundações em operação no município de São Paulo, efetuado pela Centro de Gerenciamento de Emergências da prefeitura, além do Sistema de Alerta às Inundações, com apoio de radar meteorológico.
As áreas críticas sujeitas a inundações ainda são significativas, os déficits ainda são enormes, muito ainda há de se fazer, notadamente em termos de ações estruturais (obras), complementadas por ações de educação ambiental e medidas não-estruturais, visando sua sustentabilidade.
Porém, os avanços observados tanto no aspecto institucional, com o planejamento e as ações empreendidas de forma integrada e em nível metropolitano, como no aspecto técnico, dadas as inovações tecnológicas já implementadas, permitem ser otimista com relação aos bons resultados que já vêm sendo e serão paulatinamente obtidos no combate às enchentes na região metropolitana de São Paulo.


ALUISIO PARDO CANHOLI , doutor em engenharia hidráulica pela USP, é diretor da Hidrostudio Engenharia e autor do livro "Drenagem Urbana e Controle de Enchentes" (Oficina de Textos).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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