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São Paulo, terça-feira, 28 de janeiro de 2003

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LULA, FHC E A DEPENDÊNCIA

A fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Fórum Econômico Mundial de Davos diferiu pouco, em suas linhas gerais, dos discursos de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, ante platéias estrangeiras. Apontar as assimetrias da globalização e cobrar dos países ricos que suspendam suas barreiras comerciais e patrocinem iniciativas para controlar o fluxo de capitais financeiros são temas tantas vezes mencionados por FHC que apareceram no discurso de Lula.
A transposição da principal bandeira do novo presidente na política doméstica, o combate à fome, para o âmbito internacional -sugerindo a criação de um fundo global para lidar com o problema- é uma novidade apenas relativa. Insere-se na temática dos desbalanços entre o Norte desenvolvido e o Sul pobre.
Não há dúvidas de que a atual "arquitetura" financeira internacional sequestrou dos governos nacionais boa parte do poder de determinar os rumos da política econômica doméstica. Num mundo em que as relações entre as divisas e os preços dos ativos financeiros estão entregues a interações instantâneas e imprevisíveis entre agentes privados, lidando com um volume de recursos muito superior ao disponível nas reservas dos bancos centrais, o constrangimento ao poder nacional é um fato.
É impreciso, porém, dizer que a globalização liquidou a possibilidade de sobrevivência de estratégias nacionais. Submetidos aos mesmos abalos externos recentes, alguns países em desenvolvimento se mostraram mais resistentes que outros. Nações que equacionaram seu problema de inserção externa, diminuindo ou anulando a dependência da finança internacional, se saíram melhor.
Num mundo financeiro volátil, particularmente hostil a países endividados com o exterior -exceção feita aos EUA- e infenso ao controle de capitais e ao alívio de barreiras comerciais para beneficiar os mais pobres, as chances do Brasil estão associadas a uma difícil transição rumo a um padrão menos dependente de financiar o desenvolvimento.


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