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LULA, FHC E A DEPENDÊNCIA
A fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Fórum Econômico Mundial de Davos diferiu
pouco, em suas linhas gerais, dos
discursos de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, ante platéias
estrangeiras. Apontar as assimetrias
da globalização e cobrar dos países
ricos que suspendam suas barreiras
comerciais e patrocinem iniciativas
para controlar o fluxo de capitais financeiros são temas tantas vezes
mencionados por FHC que apareceram no discurso de Lula.
A transposição da principal bandeira do novo presidente na política
doméstica, o combate à fome, para o
âmbito internacional -sugerindo a
criação de um fundo global para lidar com o problema- é uma novidade apenas relativa. Insere-se na temática dos desbalanços entre o Norte desenvolvido e o Sul pobre.
Não há dúvidas de que a atual "arquitetura" financeira internacional
sequestrou dos governos nacionais
boa parte do poder de determinar os
rumos da política econômica doméstica. Num mundo em que as relações entre as divisas e os preços dos
ativos financeiros estão entregues a
interações instantâneas e imprevisíveis entre agentes privados, lidando
com um volume de recursos muito
superior ao disponível nas reservas
dos bancos centrais, o constrangimento ao poder nacional é um fato.
É impreciso, porém, dizer que a
globalização liquidou a possibilidade de sobrevivência de estratégias nacionais. Submetidos aos mesmos
abalos externos recentes, alguns países em desenvolvimento se mostraram mais resistentes que outros. Nações que equacionaram seu problema de inserção externa, diminuindo
ou anulando a dependência da finança internacional, se saíram melhor.
Num mundo financeiro volátil,
particularmente hostil a países endividados com o exterior -exceção
feita aos EUA- e infenso ao controle de capitais e ao alívio de barreiras
comerciais para beneficiar os mais
pobres, as chances do Brasil estão
associadas a uma difícil transição rumo a um padrão menos dependente
de financiar o desenvolvimento.
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