São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Cresce a educação profissional

ARNALDO NISKIER


No meio disso tudo, há um elemento positivo a considerar: houve um aumento de 14,7% na educação profissional

2009 SERÁ um ano de fortes emoções. Não adianta desqualificar a crise econômica, considerando-a "marolinha".
O noticiário diário é um excelente remédio para ativar dores de cabeça.
O Ministério do Trabalho anuncia milhares de desempregados. Empresas poderosas dão férias coletivas. Investimentos antes anunciados são adiados para melhores dias. Onde isso tudo vai parar, só Deus sabe.
No meio dessas preocupações, com o PIB murchando de forma lamentável, existem os problemas estruturais de sempre, como é o caso da educação. A rede pública de ensino básico perdeu meio milhão de matrículas em 2008, como se pudéssemos nos dar a esse luxo. O setor privado ganhou 715 mil alunos (aumento de 11%), mas isso não serve de consolo, pois, no total, há uma tendência à redução de matrículas, especialmente nas redes estaduais e municipais.
O fato revela que o país, ainda com imensos vazios territoriais, perde substância demográfica na sua população dos sete aos 14 anos de idade. Há uma diminuição clara nas taxas de natalidade. O ministro Fernando Haddad garante que a nossa população até 17 anos vai encolher em 7 milhões de habitantes nos próximos dez anos, caindo de 58 milhões para 51 milhões.
É um fator estratégico de grande relevo para os que projetam o futuro da educação brasileira. Precisamos de mais escolas e/ou mais e melhores professores? Ainda não se sabe o papel desempenhado pelo Bolsa Família nesse processo. Será a razão do crescimento do setor privado?
Nisso tudo, há um elemento positivo a considerar, com dados extraídos do Censo Escolar 2008: houve um aumento de 14,7% na educação profissional, ou seja, mais de 101 mil estudantes, que hoje totalizam 795.459 matrículas.
Pode-se estimar que ocorra um crescimento em progressão geométrica com as novas escolas federais criadas pelo governo Lula, o que indica um caminho positivo -e inédito- em nossa pedagogia. É o segmento com maiores possibilidades de atendimento à demanda, contrariando uma tendência histórica de desprezo pela educação profissional.
Vale lembrar que ela nasceu no governo Nilo Peçanha, no início do século 20, para "crianças desvalidas" e alcançou a Constituição outorgada de 1937 com a triste percepção de que "o ensino técnico-profissional seria destinado às classes menos favorecidas". Hoje, há um sentimento exatamente oposto, que precisará ser mais e mais prestigiado, apesar das ameaças da crise econômica mundial.
A contribuição de Estados e municípios é importante, verificando-se resultados apreciáveis na oferta de vagas, especialmente em Brasília, no Rio, no Acre e no Amazonas.
São dados irrefutáveis, criando uma nova dinâmica no quadro de matrículas, aliás, uma reversão extremamente importante: os maiores crescimentos têm se revelado nas creches implantadas (10,9% de 2007 para 2008), na educação infantil (3,2%) e na educação profissional, que ficou em primeiro lugar com a expansão de 14,7%. No geral, o ensino médio cresceu 2%.
Para os estrategistas, convém pesquisar sobre os dados anunciados. Localizar as novas escolas em regiões de demanda certa -e com a garantia de uma adequada formação de professores e especialistas de qualidade. Desse quadro pode-se extrair a convicção de que há quase uma revolução na oferta pragmática de vagas para os jovens que assegurarão ao país o desenvolvimento autossustentado. Não é o que se deseja?


ARNALDO NISKIER , 73, é professor titular de história e filosofia da educação, membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do Ciee/RJ.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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