São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

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Editoriais

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O troféu

Por cinco vezes, prêmios foram concedidos ao vendedor Ivaldo Vicente da Silva, funcionário de uma indústria de bebidas em Mato Grosso. Não se tratava de homenagem ao seu desempenho na empresa. Chamados de "tartaruga" ou "lanterna", os troféus assinalavam, para os colegas de Ivaldo, que foram dele os piores resultados de vendas naquela semana.
O troféu tinha de ficar à vista de todos, na mesa do funcionário, toda a semana. Se comparecesse a alguma reunião, o premiado deveria trazer consigo o objeto infamante -e suportar, naturalmente, a zombaria dos companheiros.
Para a empresa, o sistema servia para "motivar" os vendedores. Cabe lembrar que, não importa qual fosse o empenho do grupo, sempre haveria alguém a ficar em último. Desse modo, além de bons resultados na venda de bebidas, o que se obtinha com o mecanismo era a corrosão do ambiente de trabalho, dos laços de companheirismo entre funcionários e da dignidade pessoal de cada um -sacrificados em favor de tantas latinhas de refrigerante a mais na contabilidade da empresa.
Pelo evidente exemplo de assédio moral, ou "bullying" corporativo, a fábrica de bebidas foi agora condenada pela Justiça do Trabalho a pagar R$ 80 mil de indenização ao funcionário. Recorrerá -mas desde já a decisão vale como indicador de que tais práticas, raras vezes expostas a público, vão tendo os dias contados no Brasil. Das humilhações à sentença, transcorreram cinco anos. Não muito, afinal, conhecendo-se o modo de funcionamento do Judiciário; o prêmio "tartaruga", felizmente, não foi validado aqui.


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