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PRESEPADA ELEITORAL
A pouco mais de sete meses das
eleições de outubro, o Judiciário perpetrou uma interferência no
mínimo inoportuna nas regras do jogo. Ao responder a consulta do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), cinco ministros do Tribunal Superior
Eleitoral decidiram que as alianças
estaduais entre partidos não podem
ser incompatíveis com os acordos
selados no âmbito nacional. Dois
magistrados não concordaram com
a tese. Trata-se de uma tremenda
mudança que vai afetar a estratégia
de praticamente todas as legendas.
A verticalização das alianças é um
assunto para ser discutido no Congresso Nacional, dentro do capítulo
mais geral da reforma política. Não
há consenso nem entre os especialistas nem entre os políticos sobre a sua
adequação à realidade brasileira. A
intervenção da Justiça nesse campo
-ainda que dentro do poder discricionário que lhe cabe- causa uma
tensão institucional indesejável. Não
é da tradição da Justiça Eleitoral brasileira interferir tão fortemente em
processos em curso. Pelo contrário,
a regra tem sido a da flexibilização
em casos como esse.
Não há lei específica dizendo que
as alianças devam comportar-se conforme expressou o TSE. A lei eleitoral
de 1997 abre a possibilidade genérica
de os partidos fazerem alianças. Para
chegar à conclusão de anteontem, os
ministros fizeram uma interpretação
a partir do preceito constitucional de
que os partidos têm caráter nacional.
O processo eleitoral se iniciou oficialmente em 6 de outubro do ano
passado, um ano antes do pleito.
Desde aquela data, a lei eleitoral, de
forma prudente, impede que o Congresso altere as regras do jogo. Mas o
que o TSE fez foi modificar as regras
de um jogo em andamento. A consulta de Miro Teixeira foi protocolada em agosto de 2001. Havia tempo
para que o tribunal se pronunciasse
antes do início do período eleitoral.
Fazê-lo agora, quando a capacidade
de reação do Congresso está bastante limitada, é um absurdo.
Eleições exigem regras estáveis e
previsíveis, quanto mais em países
que lutam para fortalecer sua democracia. A decisão do TSE, especialmente pelo momento em que foi tomada, deveria ter sido evitada. Ela dá
margem a uma onda de insegurança
política e jurídica cujas consequências podem ser altamente danosas.
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