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A CRISE DE CHÁVEZ
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva abreviou sua permanência na Venezuela. A decisão poderia ser interpretada como uma tentativa de evitar a consolidação da
imagem de que o governo petista estaria inclinado a formar com o líder
cubano Fidel Castro e o venezuelano
Hugo Chávez um eixo anti-Washington na América Latina. Se correta a interpretação, ela marca um momento de bom senso da diplomacia
brasileira, que nada teria a ganhar
com esse tipo de alinhamento.
A Venezuela passa por um período
de turbulência. Novos distúrbios
ocorreram ontem no país. A atuação
do intempestivo populista Hugo
Chávez vai se comparando a um mau
roteiro de filme sobre repúblicas de
bananas na América Latina. Ele está
prestes a invalidar, pela terceira vez, a
tentativa da oposição de convocar
um referendo que poderia acabar reduzindo o seu mandato.
Mais uma vez, o governo se aferra a
tecnicalidades que dão um toque
kafkiano ao processo. Agora, o Conselho Nacional Eleitoral, no qual três
dos cinco conselheiros são ligados
ao presidente, exige que todos os
eleitores que tenham assinado a petição do plebiscito, mas que não
preencheram de próprio punho os
dados pessoais, comprovem, num
prazo de cinco dias, as suas firmas.
Com a nova e extemporânea demanda -que afeta cerca de 1 milhão
das 3 milhões de assinaturas apresentadas- aumentam muito as
chances de que não se atinja o patamar de 2,4 milhões (20% do eleitorado) de firmas válidas necessárias para que se convoque o referendo.
É até possível que a oposição se tenha valido de fraudes, como acusa
Chávez. O fato, porém, é que a Venezuela está cindida e imobilizada por
uma crise que parece difícil de ser administrada até o próximo pleito, em
2006. Em vez de prender-se a artimanhas burocráticas, que apenas eternizam a instabilidade, o líder venezuelano deveria ter a coragem e a
grandeza de aceitar o referendo. Perca ou não, ganham a democracia e a
Venezuela. A alternativa é levar o
confronto a uma ruptura tão previsível quanto danosa para o país e o
continente.
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