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ELIANE CANTANHÊDE
Forma e conteúdo
BRASÍLIA- A semana passada foi
um verdadeiro carnaval. Lula de
chapéu de cangaceiro, caminhando
na praia, nadando, almoçando com
Bono. Serra num dia de roqueiro no
U2, no dia seguinte de folião no camarote da avenida. Alckmin provando na TV um legítimo picolé de chuchu (argh!).
Na vida e na eleição, porém, os símbolos e as formas contam, mas conta
principalmente o conteúdo. E a grande marca da semana, talvez de todo
este início de ano, foi o anúncio daqueles 2,3% ardidos do crescimento
econômico do Brasil em 2005.
O governo, espertinho, divulgou
bem na sexta-feira, com os tamborins
esquentando, para que o Carnaval
engolisse os números e o vexame e o
eleitorado simplesmente esquecesse.
Mas nós estamos aqui, de plantão,
exatamente para essas eventualidades e para não deixar algo assim tão
grave cair no esquecimento.
Em 2005, não houve uma só crise
na Ásia, na Rússia, fosse onde fosse. A
Argentina e a Venezuela cresceram
por volta de 9%, mas o Brasil só conseguiu bater um único e miserável
país de toda a América Latina: o
Haiti. Dá para esquecer?
Enquanto isso, o lucro dos bancos
foi recorde, chegando a 80% no caso
do Bradesco. 80%! E, segundo a manchete da Folha de ontem, bem no
meio da folia, os bancos são os maiores financiadores do caixa do PT e
aumentaram suas contribuições ao
partido, de 2002 a 2004, em 1.000%.
1.000%! Deve ser coincidência...
Bem, o Carnaval acaba, mas a vida
continua, e a campanha eleitoral
também. Com os 2,3% de crescimento, com o lucro dos bancos, com as
notícias velhas e novas das CPIs, com
as pesquisas e a divisão da oposição.
No Carnaval, Serra acabou indo
para um "retiro", e Alckmin disse aos
repórteres que não falaria de política,
porque o momento era de "pierrô e
colombina". Mas esses também vão
embora e só voltam em fevereiro de
2007. Quem fica, e sem fantasia, são
Serra e Alckmin. Aliás, só um dos
dois. Chegou a hora da decisão.
@ - elianec@uol.com.br
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