|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SERGIO COSTA
Do circo ao cerco social
RIO DE JANEIRO - Dos 17 falcões mostrados pelo documentário sobre
meninos do tráfico, o único ainda vivo, o preso Sérgio Teixeira, 21, foi parar domingo no "Faustão". No ar, recebeu ofertas de donos de circo para
aprender o ofício de palhaço. Dá nisso a TV transformar tudo na vida em
show. Mas o saldo de uma semana de
overdose de exibições e de busca pela
repercussão das imagens do vídeo foi
positivo. O Brasil A foi apresentado
formalmente ao Brasil B. O encontro
gerou debates e algum fluxo de informações.
Segundo a inspetora-pop Marina
Magessi, fora das favelas mais "badaladas", como Rocinha, Mangueira e
algumas outras, o tráfico está em crise. Há morros menores com "apenas
um fuzil e algumas pistolas". Ela deve saber o que fala. E o que ela diz bate com a afirmação do coordenador
cultural do AfroReggae José Júnior:
seu grupo paga mais pelo trabalho de
jovens do que o crime.
Fora do eixo Rocinha-Mangueira,
com seus "consumidores" de classe
média, a venda de maconha e cocaína focou seu público-alvo na comunidade. Criou o sacolé-fidelidade
-"compre dez e cheire 11", como
mostrou a Folha domingo. O baixo
poder aquisitivo dos usuários e a ganância de maus policiais -"se acabar o tráfico, acaba a polícia", dizia
um dos falcões- deixaram alguns
traficantes do varejo no vermelho.
Além disso, eles enfrentam no "asfalto" a concorrência de drogas sintéticas importadas da Europa. Ecstasy,
LSD e outras repetem hoje o boom da
cocaína dos anos 80: transformam filhos da elite carioca em traficantes e
a casa dos seus pais em "bocas". Drogas são negociadas até pela internet.
De volta ao Brasil B, o debate pós-falcões -se é tudo verdade- parece
revelar uma "janela de oportunidade" para enfrentar nossas mazelas.
Dá para começar pelas beiradas. Nos
locais onde o tráfico está em crise,
mais propícios a uma invasão social e
cultural do Estado e de grupos como
o AfroReggae. Exemplos não faltam
para animar governos a retomar, na
paz, territórios abandonados. Mas
dá trabalho. Votos? Só a perder de
vista.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Fim de festa Próximo Texto: Roberto Mangabeira Unger: Atalhos e caminhos Índice
|