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RUY CASTRO
Humilhando os amigos
RIO DE JANEIRO - Um recente
bordejo na Europa pelo que restou
daqueles antigos templos do consumo, as lojas de discos, revelou prateleiras contendo um artigo que se
supunha mais extinto que o dodô: o
long playing, ou LP. Aquele que, depois do advento do CD, passou-se a
chamar de "vinil".
O que, aliás, é tão sem sentido
quanto chamar o CD de metal -vinil e metal sendo apenas o material
com que são fabricados. Ou eram,
porque o LP saiu de linha em 1990,
depois de 42 anos como o formato
ideal para se ouvir música gravada,
e o CD, muito mais jovem, também
já caducou diante dos novos meios
eletrônicos.
Um dos prazeres do tempo do LP
era ser o primeiro a ter o disco do
Fulano ou do Beltrano, que acabara
de sair nos EUA e ainda não chegara
às importadoras por aqui, nem tinha previsão de edição nacional. Os
mais enturmados eram amigos de
comandantes da Varig, que os traziam na bagagem juntamente com
as ampolas de Black Label e outros
itens de primeira necessidade.
Ou então, quando o próprio sujeito viajava, o principal programa na
volta era reunir os amigos e humilhá-los com uma audição em primeira mão. Os veteranos falam sobre isto com discos como "Only the
Lonely", com Frank Sinatra, em
1958, "Time Out", com Dave Brubeck, em 1959, a trilha sonora de
"West Side Story", em 1961, ou a de
"A Hard Day's Night", em 1964.
Não por acaso, estes são LPs que
vi há pouco em lojas de Madri e Berlim -lindos, que nem os originais,
estalando de novos, prensados de
véspera-, ao lado de toca-discos
também novos e cópias exatas, até a
última válvula, dos Technics do
passado.
O que significa? Que os LPs estão
voltando? Não, é só um capricho
dos fabricantes. Um mimo para os
que ainda gostam de ouvir grande
música, bem gravada e num insuperável suporte físico.
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