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TENDÊNCIAS/DEBATES
É positivo o sistema de premiação para escolas que tenham bom desempenho?
NÃO
Avaliar para construir
NELSON MACULAN
FOI UMA semana importante de
análise da educação no Brasil. O
recém-lançado Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) deixou uma impressão positiva de um
trabalho bem concebido para ampliar
a qualidade de ensino no país.
As metas de resgate das escolas públicas até 2021 poderão avançar nos
resultados de taxas inconcebíveis de
não-aprendizagem, evasão e repetência já apurados e divulgados pelo novo
método de avaliação de ensino, o Ideb
(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), divulgado quinta-feira.
O Rio de Janeiro ficou numa das últimas colocações. A média das escolas
avaliadas foi inferior a quatro, mostrando que a rede pública no Estado
está abaixo da média nacional da primeira à oitava série do ensino fundamental e também no ensino médio.
Todos parecem de acordo com a
grande chance do Brasil de acertar o
passo, de estabelecer metas e cobrar
resultados. Além de reservar R$ 1 bilhão para investimento nos municípios com piores indicadores educacionais, o Ministério da Educação irá
premiar as escolas públicas que melhorarem o seu desempenho.
No próximo ano, as crianças de seis
a oito anos vão fazer a Provinha Brasil, uma avaliação como a que já é feita
para os alunos mais velhos, mas creio
ser duvidoso o princípio de premiar
por mérito.
No Rio, o nosso governo conseguiu
que o Estado acabasse neste ano com
o Programa Nova Escola, criado há
seis anos pelas últimas gestões.
O programa fazia uma avaliação externa dos alunos -de português e matemática e, em 2005, de ciências da
natureza- e concedia gratificações a
professores cujas unidades escolares,
comprovadamente, apresentavam
bons resultados. No total, foram avaliados cerca de 2.300.000 estudantes
e, nem por isso, escapamos do vexame de mostrarmos um ensino de má
qualidade.
Estou convencido de que a avaliação não é para punir nem para premiar, mas sim para construir.
Precisamos continuar a utilizar os exames
nacionais e provas complementares
nessas avaliações, mas é importante
ressaltar que tipo de avaliação será
essa. O melhor que uma escola pode
oferecer aos seus alunos é o desenvolvimento de sua capacidade de abstração, pois esta lhe permitirá vencer os
obstáculos mais difíceis de sua vida.
Temos que verificar as condições
dos professores e alunos e comparar
nossas escolas com outras unidades
que estão entre as melhores.
Esse é o princípio fundamental de
um sistema educacional republicano:
o de garantir a igualdade de oportunidades, inclusive na avaliação do rendimento dos estudantes. A escola tem
que fazer a diferença, pois, do contrário, se torna um depósito de crianças
que mal saberão ler e escrever.
É hora de investir em projetos pedagógicos, na infra-estrutura das escolas, na valorização do professor e
em melhores salários para eles, o que
impedirá o educador de precisar lecionar em três ou quatro escolas.
Defendo o tempo integral, com pelo
menos oito horas do aluno na escola,
de forma interessante, com atividades esportivas, culturais, de informática e línguas estrangeiras. Se o estudante estiver motivado, não haverá
força no mundo que o faça não
apreender novos conhecimentos.
Há muito o que fazer. No entanto, é
importante salientar que o desenvolvimento da educação só dará frutos
nas próximas décadas, tendo em vista
os anos de omissão. Precisamos da integração de Estados e municípios, de
boas gestões e do envolvimento do
corpo docente no novo plano.
A prova dos nove é na sala de aula e,
com esforço, vamos avançar no ensino básico e dar início a um novo século da educação no Brasil.
NELSON MACULAN, 64, engenheiro, mestre em matemática estatística (Universidade de Paris 6) e doutor em engenharia de produção (UFRJ), é secretário de Estado de
Educação do Rio de Janeiro. Foi reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990-94) e secretário de Educação
Superior do Ministério da Educação nos últimos três anos.
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