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Mitos sobre o álcool
Físico José Goldemberg, autoridade mundial em energia renovável, desfaz enganos da propaganda contra biocombustíveis
O FÍSICO José Goldemberg tem reputação internacional como especialista em fontes alternativas de energia, cuja importância cresce na razão direta
da alta nos preços do petróleo.
Uma reputação construída ao
longo de pelo menos três décadas, das quais sobressai um artigo clássico, publicado em 1978
no periódico "Science", sobre o
potencial energético do álcool de
cana-de-açúcar. Quando discorre sobre obstáculos aos biocombustíveis, portanto, deve ser ouvido com atenção.
Goldemberg falou ao jornal
"Valor Econômico" sobre quatro
mitos que rondam combustíveis
renováveis, todos negativos, e
que acabam por contaminar o álcool de cana. Ei-los: biocombustíveis causam desmatamento;
estão provocando fome no mundo; seu efeito sobre a emissão de
gases do efeito estufa é nulo; seriam viáveis apenas em nichos,
como o brasileiro.
A primeira afirmação, segundo
Goldemberg, não é válida nem
para os Estados Unidos nem para o Brasil, os dois maiores produtores. Nos Estados Unidos, a
matéria-prima do álcool é milho,
cujo cultivo avança sobre áreas
de soja, e não sobre terras virgens (artigo raro por lá).
Aqui, as lavouras de cana ocupam superfície comparável à do
Rio Grande do Norte, mas isso
corresponde a meros 2% dos 2,9
milhões de km2 utilizados pelo
setor agropecuário (pouco mais
de um terço do território nacional). E o aumento da área canavieira, inegável, costuma ocorrer
pela conversão de pastagens. Para o físico, a cana não contribui
nem mesmo de modo indireto
para desmatar a Amazônia, pois
o espaço ocupado por pastos está
até diminuindo -é a produtividade da pecuária que aumenta.
O segundo equívoco Goldemberg descarta com outro dado
objetivo: a agricultura de todos
os países juntos se espalha por
12 milhões de km2 do planeta,
mas só 100 mil km2 são destinados a biocombustíveis nos EUA e
no Brasil. Ou seja, os "críticos
perderam completamente o senso de proporção".
O terceiro mito, do suposto balanço energético desfavorável
dos biocombustíveis, é rebatido
pelo entrevistado com uma condenação ao álcool de milho. Este
produz apenas 1,5 unidade de
energia renovável para cada unidade de energia fóssil (petróleo
empregado para produzir fertilizantes ou diesel para máquinas,
por exemplo). O álcool de cana,
por seu turno, rende oito. Vale
dizer, o etanol brasileiro é cinco
vezes mais eficiente para substituir combustíveis que agravam o
aquecimento global.
Por fim, Goldemberg derruba
a quarta mistificação, assinalando que apenas 25% da cana
mundial está plantada no Brasil.
Há canaviais em vários outros
países tropicais, como os da
América Central e da África, para citar duas regiões com grande
potencial de expansão. Uma expansão que só não se materializa
mais depressa porque a agricultura menos produtiva dos países
ricos precisa de mitos e subsídios para sobreviver no mercado
globalizado.
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