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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A lição da Bienal do Livro

MILÚ VILLELA

A 11ª Bienal do Livro do Rio terminou neste último domingo em clima de Oscar. A maior feira de livros realizada no país acertou em cheio ao eleger as crianças e os adolescentes como um dos públicos prioritários nesta sua edição. Quem visitou o evento pôde ver a presença maciça de estudantes de escolas primárias e secundárias percorrendo os estandes, numa verdadeira gincana do conhecimento.
Essas imagens só foram possíveis porque houve um planejamento socialmente responsável por parte dos organizadores da maior celebração do livro no país. A Bienal encaminhou a 2.000 escolas do Rio de Janeiro o "kit visitação escolar". Professores e 200 mil alunos foram devidamente preparados e estimulados a desvendar de forma criativa e estruturada o fabuloso universo literário exposto no Riocentro.
O Sindicato Nacional dos Editores de Livros também adotou, numa iniciativa que só merece aplausos, o uso da Nota Bienal. Os R$ 3 cobrados a título de ingresso de cada um dos alunos visitantes se converteram em um vale-livro. Ou seja, todas as crianças que ali estiveram saíram com um exemplar embaixo do braço. E, melhor, muitos desses livros vão acabar integrando o acervo das bibliotecas das escolas, num efeito multiplicador extremamente salutar.
Iniciativas simples como essas são fundamentais para transformar o país. Temos hoje aproximadamente 67 milhões de brasileiros com idade inferior a 16 anos. Esse enorme contingente só conhecerá a verdadeira dimensão da cidadania se receber atenção de toda a sociedade. O caso da Bienal, com seu programa bem pensado de envolvimento das escolas, é um exemplo do que podemos fazer para criar um futuro melhor para esse estrato da população que se prepara para ingressar na vida adulta.
O que a Bienal do Livro nos mostra é que podemos agir. Que a acomodação não cabe no mundo contemporâneo. E que o país só terá sustentação a médio e longo prazo se atuarmos estrategicamente, olhando sempre para as novas gerações. Como disse Roberto Feith, o maestro dessa Bienal, em uma de suas entrevistas a emissoras de TV, as novas gerações é que dão sentido a tudo o que estamos fazendo.


O país só terá sustentação a médio e longo prazo se atuarmos estrategicamente, olhando para as novas gerações


Os editores de livros sabem que seu mercado só crescerá se houver expansão da base de leitores. E estão criando mecanismos para que isso aconteça. Se todos os segmentos empresariais despertassem para esse fato e resolvessem desencadear ações de promoção social, de inserção de crianças e adolescentes, seguindo os passos da Bienal, estaríamos abrindo caminho para subverter a realidade que nos cerca.
Não se trata mais de contar apenas com a iniciativa de empresas isoladamente. A Bienal mostrou que é possível congregar um setor quando o assunto é promoção da cidadania. O setor de alimentos, de bens de capital, a indústria de eletroeletrônicos, a indústria de medicamentos, os bancos e tantos outros, que agem organizadamente quando querem negociar seus pleitos com o governo, poderiam se dedicar também, com consistência, a propor estratégias de inserção social em seu campo de atuação, agindo coletivamente. As ações sociais ganhariam força e relevância política!
Os editores de livros deram uma boa demonstração de cidadania. Mas seria interessante que sua atuação não se limitasse à Bienal do Livro. Dada a gigantesca tarefa que temos pela frente, eles têm a obrigação de dar continuidade a ações que promovam a leitura e a formação de nossas crianças e jovens. Seria uma lição e tanto para todo o conjunto do empresariado brasileiro, que agora precisa aprender a atuar no social em parceria com os seus pares, multiplicando o alcance de suas iniciativas.

Milú Villela, 56, empresária, é presidente do Instituto Faça Parte - Brasil Voluntário, do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e do Instituto Itaú Cultural.


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