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TENDÊNCIAS/DEBATES
A lição da Bienal do Livro
MILÚ VILLELA
A 11ª Bienal do Livro do Rio terminou neste último domingo em clima de Oscar. A maior feira de livros realizada no país acertou em cheio ao eleger as crianças e os adolescentes como
um dos públicos prioritários nesta sua
edição. Quem visitou o evento pôde ver
a presença maciça de estudantes de escolas primárias e secundárias percorrendo os estandes, numa verdadeira
gincana do conhecimento.
Essas imagens só foram possíveis porque houve um planejamento socialmente responsável por parte dos organizadores da maior celebração do livro
no país. A Bienal encaminhou a 2.000
escolas do Rio de Janeiro o "kit visitação
escolar". Professores e 200 mil alunos
foram devidamente preparados e estimulados a desvendar de forma criativa
e estruturada o fabuloso universo literário exposto no Riocentro.
O Sindicato Nacional dos Editores de
Livros também adotou, numa iniciativa
que só merece aplausos, o uso da Nota
Bienal. Os R$ 3 cobrados a título de ingresso de cada um dos alunos visitantes
se converteram em um vale-livro. Ou
seja, todas as crianças que ali estiveram
saíram com um exemplar embaixo do
braço. E, melhor, muitos desses livros
vão acabar integrando o acervo das bibliotecas das escolas, num efeito multiplicador extremamente salutar.
Iniciativas simples como essas são
fundamentais para transformar o país.
Temos hoje aproximadamente 67 milhões de brasileiros com idade inferior a
16 anos. Esse enorme contingente só conhecerá a verdadeira dimensão da cidadania se receber atenção de toda a sociedade. O caso da Bienal, com seu programa bem pensado de envolvimento das
escolas, é um exemplo do que podemos
fazer para criar um futuro melhor para
esse estrato da população que se prepara para ingressar na vida adulta.
O que a Bienal do Livro nos mostra é
que podemos agir. Que a acomodação
não cabe no mundo contemporâneo. E
que o país só terá sustentação a médio e
longo prazo se atuarmos estrategicamente, olhando sempre para as novas
gerações. Como disse Roberto Feith, o
maestro dessa Bienal, em uma de suas
entrevistas a emissoras de TV, as novas
gerações é que dão sentido a tudo o que
estamos fazendo.
O país só terá sustentação a médio e longo prazo
se atuarmos estrategicamente, olhando para as novas gerações
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Os editores de livros sabem que seu
mercado só crescerá se houver expansão da base de leitores. E estão criando
mecanismos para que isso aconteça. Se
todos os segmentos empresariais despertassem para esse fato e resolvessem
desencadear ações de promoção social,
de inserção de crianças e adolescentes,
seguindo os passos da Bienal, estaríamos abrindo caminho para subverter a
realidade que nos cerca.
Não se trata mais de contar apenas
com a iniciativa de empresas isoladamente. A Bienal mostrou que é possível
congregar um setor quando o assunto é
promoção da cidadania. O setor de alimentos, de bens de capital, a indústria
de eletroeletrônicos, a indústria de medicamentos, os bancos e tantos outros,
que agem organizadamente quando
querem negociar seus pleitos com o governo, poderiam se dedicar também,
com consistência, a propor estratégias
de inserção social em seu campo de
atuação, agindo coletivamente. As
ações sociais ganhariam força e relevância política!
Os editores de livros deram uma boa
demonstração de cidadania. Mas seria
interessante que sua atuação não se limitasse à Bienal do Livro. Dada a gigantesca tarefa que temos pela frente, eles
têm a obrigação de dar continuidade a
ações que promovam a leitura e a formação de nossas crianças e jovens. Seria
uma lição e tanto para todo o conjunto
do empresariado brasileiro, que agora
precisa aprender a atuar no social em
parceria com os seus pares, multiplicando o alcance de suas iniciativas.
Milú Villela, 56, empresária, é presidente do Instituto Faça Parte - Brasil Voluntário, do
MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e
do Instituto Itaú Cultural.
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