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CPMF, a revanche
Proposta de recriar imposto, promovida pela base de Lula na Câmara,
é um acinte diante de
tanta gordura tributária
A EMENDA que propunha
a renovação do imposto do cheque foi derrubada em dezembro,
numa decisão soberana do Senado. A arrancada na arrecadação
federal no primeiro terço de
2008 -12% de alta acima da inflação, no mínimo o dobro do ritmo de avanço do PIB, a despeito
do fim da cobrança da contribuição- lançou por terra todas as
previsões catastrofistas do Planalto acerca dos efeitos do fim da
CPMF no Orçamento da União.
Nadando em dinheiro, no primeiro bimestre o governo já
abandonara o discurso de "cortar na veia mais uma vez", palavras presidenciais, a fim de custear despesas básicas. Aumentos
salariais concedidos a vários setores do funcionalismo denunciaram a mudança dos ventos, no
sentido da retomada do galope
nos gastos, ditos correntes, com
a máquina pública.
Outro dado eloqüente acerca
da pujança da receita surgiu ontem, quando foi divulgada a sobra de caixa do governo federal
de janeiro a abril. O chamado superávit primário atingiu 5,3% do
PIB, acima da meta para todo o
setor público (incluindo Estados
e municípios), de 3,8%. O resultado está associado ao volume
recorde recolhido pelos impostos, e não a um repentino surto
de austeridade no Executivo.
Diante de tamanha gordura
tributária, é acintosa a tentativa
da base governista na Câmara,
patrocinada pelo Planalto, de
ressuscitar a CPMF, agora rebatizada de Contribuição Social para a Saúde (CSS), a uma alíquota
de 0,1% -a da contribuição extinta em dezembro era 0,38%.
As vantagens da CPMF -tributo fácil de arrecadar e que auxilia no combate à sonegação-
poderiam ser restauradas no bojo de uma reforma tributária que
simplificasse o sistema, tornasse
mais justa a arrecadação e diminuísse o peso dos impostos. Seria
um modo de respeitar a decisão
do Congresso, ancorada na ampla rejeição social ao nível absurdo da carga tributária.
Não é isso, contudo, o que a base governista na Câmara pretende com o projeto que recria a
CPMF. Trata-se de resolver à
moda clássica, debitando a fatura ao contribuinte e aumentando
ainda mais o fardo dos impostos,
uma necessidade de gasto novo e
duradouro com a Saúde, criada
no Senado sob o beneplácito de
governistas e oposicionistas.
Trata-se, igualmente, da tentativa do lulismo de ir à forra pela
derrota sofrida em dezembro.
Esse revanchismo pueril atingiria, porém, outros alvos, o que
os deputados deveriam levar em
conta antes de corroborar a sandice. A proposta tripudia sobre o
inconformismo da sociedade
com o nível dos impostos, aumenta o engessamento da despesa pública, chancela a gastança
na máquina estatal e retira do setor privado fôlego para investir.
Por tudo isso, a CSS deveria ser
fulminada no nascedouro.
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