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JOSÉ SARNEY
Lula, grampo e Pr.
Pelo Brasil inteiro, o futebol e a
democracia fazem a festa., Para
aumentar a motivação, no Nordeste
entra o São João com toda a força de
sua alegria. As convenções partidárias
formam um espetáculo à parte. Os
partidos pequenos, sem recursos nem
meios para grandes festas, mobilizam
vocações políticas e, na simplicidade
de seus diretórios, entram no jogo.
São milhares e milhares de candidatos
que, sem nenhuma chance, desejam
participar e fazem o seu papel de figurantes. Nas grandes legendas, vale
desde o show hollywoodiano do
PSDB, em Brasília, que custou declarados R$ 500 mil, preço das lâmpadas
e adereços, até a convenção do PFL,
que não gastou nada porque simplesmente não realizou convenção.
Mas a democracia brasileira está
manchada por vergonhosa volta a
métodos mexicanos dos anos 50. É
inacreditável que a polícia grampeie
por 18 meses os dirigentes do PT e que
o ministro da Justiça diga que não é
grampo, é "interceptação telefônica".
Como toda "armação", a "legalidade" invocada é uma inacreditável conjunção de fraude com má-fé. Aliás, o
método já é bem conhecido. Uma área
de sombra do governo tem interesse
em destruir determinada pessoa ou situação para facilitar o seu caminho.
Simula-se uma investigação sigilosa.
A motivação, para tomar uma aparência de legal, é manipular denúncias e
incluir telefones de políticos contrários entre apuração de narcotráfico.
Lula não foi o primeiro.
Essa prática começou ao lado do gabinete do presidente. Queriam demitir o embaixador Júlio César Gomes
do Santos, chefe do cerimonial. Um
delegado mandou incluir o seu telefone numa escuta de investigação de
narcotraficantes. Resultado: envolveram-no na trama do Sivam, e ele
amargou o diabo. Nessa época, quando a "IstoÉ" tinha as fitas, o presidente mandou chamar dois jornalistas da
revista para tentar adiar a matéria.
Perguntou quem tinha conhecimento
dela. Um deles, que já estava trabalhando na matéria, disse que era o senador Sarney, porque era presidente
do Senado e a ele tinha sido feito um
dos telefonemas do embaixador Júlio
César, em que perguntava quando entraria em pauta o projeto. "Nós o procuramos para confirmação", disse o
jornalista. O presidente ficou desolado: "Logo o Sarney ter conhecimento!". E, como se estivesse surpreso, escorregou: "Nós deveríamos era manter o grampo por mais um mês para
ver se o pegávamos". O jornalista contou-me essa história. Eu não acreditei...
O aparato estatal está a serviço da
política. Até o deputado José Dirceu,
que tem uma biografia de lutas e de
honestidade, está sentindo na carne
esse procedimento. O senador Jorge
Bornhausen também está sendo vítima dessa ação ditatorial e fascista porque levou o PFL a romper com o governo.
O que ocorre no seio do governo
não se apura nem se grava. É a lei do
abafa.
Mas pena mesmo temos do presidente. Ele não sabe de nada. Ele não
sabia da crise de energia, ele não sabia
do aumento da gasolina, nem da operação com o Banco Marka, nem do
Proer. Recomendou à seleção: "Sapato alto não pode, grampo sim".
Ele, coitado, ficou indignado com as
matanças de São Paulo. Ficou revoltado com a metralhada à Prefeitura do
Rio. E, para saber se aquilo tudo era
verdade, foi àquela cidade, recolheu
algumas cápsulas (cartuchos de balas), cheirou e perplexo constatou:
"É pólvora! Que absurdo!".
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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