São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2006

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FERNANDO RODRIGUES

O engavetador da Câmara

BRASÍLIA - Nestes tempos de padrão ético tão degradado, casos graves de desvio de comportamento de alguns políticos surgem e são esquecidos com a mesma velocidade. Um exemplo é o do corregedor e segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI). Em qualquer país decente, como diria Lula há quatro anos (não hoje), o piauiense Nogueira não poderia estar no cargo que ocupa. Primeiro, ajudou a protelar a investigação do caso dos deputados sanguessugas. Agora, sabe-se, um dos assessores acusados de participar do crime dava expediente no gabinete do próprio Nogueira -a pessoa responsável pela investigação. Confrontado com o fato desabonador, o deputado reagiu de duas formas. Sobre o seu assessor acusado de atuar como sanguessuga, teve amnésia: "Nunca conheci, nem ouvi, não sei nem quem é". Depois, o pior: "Temos diversos assessores na segunda vice. Qualquer que seja o membro da segunda vice que seja eleito, os cargos não são dele, são do partido. A liderança divide entre os deputados". Em resumo, para se auto-inocentar, o corregedor da Câmara confessou: 1) contratar pessoas que não conhece e 2) a prática aberta de fisiologismo, pois loteia os cargos da segunda vice-presidência entre os integrantes do seu partido, o mensaleiro PP. As declarações de Nogueira foram publicadas na Folha na segunda-feira. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, não se manifestou. O mínimo que os deputados deveriam exigir seria o afastamento do corregedor até que alguma apuração fosse concluída. É zero a chance de um desfecho dessa ordem. Ninguém na Câmara está interessado em investigar Ciro Nogueira -o homem pegou jeito pela prática do engavetamento e pode continuar a prestar esse serviço no futuro.

frodriguesbsb@uol.com.br


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