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CARLOS HEITOR CONY
Tempo de maratona
RIO DE JANEIRO - Não sei se merecem ser eleitos, mas devem estar merecendo alguma coisa, ou aqui mesmo, neste mundo de Deus, ou no próprio reino de Deus, que tem fama de
ser melhor do que o primeiro. Li as
andanças dos candidatos no último
domingo, dia do Senhor, e todos, pelo
menos os do Rio e de São Paulo, cumpriram a maratona eleitoral que incluiu visitas a igrejas de diferentes
credos, cada qual vendendo o seu peixe e comprando a benevolência dos
eleitores.
Ainda não foi encontrado um meio
mais higiênico e menos estafante para chegar ao eleitor comum, que, apesar de agredido massivamente pela
TV e outros recursos de comunicação
moderna, não dispensa o que entendidos chamam de "corpo a corpo eleitoral", o afago na criancinha, o beijo
na velhinha, o abraço no operário, os
comes e bebes de circunstância.
Antes de sair de casa, devem tomar
alguma poção mágica, recomendada
pelo marqueteiro de plantão ou por
um nutricionista especializado, capaz de neutralizar as injúrias alimentares a que são obrigados a enfrentar, desde as empadas e pastéis de
botequim até as especialidades de
circunstância, entre as quais a mais
notável foi a buchada de bode que
certo candidato foi obrigado a encarar e, deliciado, a lamber os beiços.
Deve sobrar pouco tempo e energia
para promessas outras, para ouvir
sugestões ou apelos. O importante é o
candidato se vender como homem
comum, ainda que seja uma mulher
como a prefeita Marta, que já teve
castelo em Itaipava e, quando se casou recentemente, usou um chapéu
que nem Madame Pompadour teria
coragem de usar.
Homem comum também se esforça
para ser o meu amigo Conde, que
nunca teve castelo, mas, a começar
pelo tamanho, é incomum, além de
arquiteto culto, com quem se pode
conversar sobre a Espanha medieval
e sobre as Guerras Púnicas, a primeira e a segunda.
Não pretendo votar na eleição deste
ano, mas gostaria de votar em todos.
Eles merecem.
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