São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002 |
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ANTONIO DELFIM NETTO O sucesso e o fracasso
Uma síntese radical do governo
FHC pode ser apreciada na tabela
abaixo, em que se registra a inflação
média e o crescimento real médio nos
dois quatriênios de seus mandatos. O contraste entre as duas colunas não poderia ser maior. A primeira revela um retumbante sucesso, que tende a ser relativizado pelo estrepitante fracasso confessado pela segunda. Esse contraste feroz não é inteiramente justo, porque esconde alguns progressos institucionais e, talvez o mais importante, uma séria mudança, que alterou o comportamento da sociedade. Depois da imensa desorganização produzida pelo processo inflacionário a partir do início dos anos 80, pudemos apreciar as vantagens de conhecer preços de equilíbrio relativamente estáveis com os mercados funcionando livremente. O sucesso no combate à inflação é, hoje, minimizado, porque, depois de oito anos de "exploração do êxito", a sociedade introjetou o seu benefício e passou a considerá-lo como corriqueira obrigação do governo. Além do mais, a inflação parece que abandonou o planeta Terra. Hoje, existem apenas três ou quatro países com taxa de inflação superior a 10%. Por outro lado, a redução do crescimento, apontada na segunda coluna, foi, pouco a pouco, assumindo a sua verdadeira expressão, que é o aumento da taxa de desemprego. Esses resultados não foram consequência do combate à inflação, mas, sim, dos equívocos da política cambial do primeiro mandato. Entre 1995 e 1998, o câmbio foi mantido artificialmente supervalorizado à custa de altíssimas taxas de juros para financiar US$ 106 bilhões de déficit em conta corrente. Nesse período, não foi feito nenhum esforço fiscal razoável e, em média, registrou-se um déficit primário de 0,2% do PIB. No segundo mandato, a política foi modificada para melhor por exigências do FMI. Introduziu-se o câmbio flutuante e produziu-se um superávit primário médio de 3,6% do PIB. Mas, mesmo com essa mudança, acumulamos mais US$ 91 bilhões de déficit em conta corrente no período 1999-2002 -a despeito de o crescimento médio ter sido de apenas 1,9% por ano. O período de oito anos termina com a relação dívida líquida/PIB passando de 28% em fins de 1994 para 60% em fins de 2002, com uma acumulação de US$ 200 bilhões de déficit em conta corrente e com uma relação dívida externa/exportação de quase quatro. Esses resultados estão cobrando o seu preço no meio do processo eleitoral. A isso juntou-se a "aversão ao risco" dos investidores internacionais que nos obrigou a pedir socorro, pela terceira vez em quatro anos, ao FMI. Não é à toa que o candidato do governo enfrenta dificuldades. Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna. dep.delfimnetto@camara.gov.br Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Dois eleitorados Próximo Texto: Frases Índice |
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