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Tempo perdido
Pesquisa sobre nível de alunos no ensino básico mostra desigualdade alarmante entre escolas públicas e particulares
Depois de três anos na escola, a
maioria das crianças brasileiras
não sabe calcular o troco, desconhece a diferença entre um triângulo e um retângulo, não identifica o tema de um texto simples e é
incapaz de ler as horas.
Ler as horas, diga-se de passagem, não num relógio comum. Seria exigir demais. A incapacidade
se verifica diante do mostrador de
um relógio digital.
Tempo perdido, portanto: a frase, talvez excessivamente dramática, aplica-se ao que acontece nas
salas de aula de grande parte das
escolas do país, num período crucial para a aquisição de habilidades básicas na leitura, na escrita e
na aritmética.
É o resultado a que chegou uma
pesquisa em 250 escolas brasileiras, públicas e particulares, realizada pelo movimento Todos pela
Educação. A chamada Prova ABC
avaliou 6.000 alunos que concluíram o 3º ano (antiga 2ª série) do
ensino fundamental, em todas as
capitais do país. São crianças que
em geral têm 8 anos de idade.
Mais do que as deficiências
substantivas constatadas na pesquisa, é o abismo entre alunos de
escolas públicas e particulares o
que chama a atenção.
Nas escolas pagas, 3/4 das
crianças atingiram os resultados
esperados em matemática; a porcentagem reduziu-se a 43% entre
os alunos da rede pública. Disparidades gritantes também se manifestaram nos testes de leitura
(79% contra 49%) e de escrita
(82% contra 53%).
Há também diferenças conforme as regiões do país. No Sudeste
e no Sul, o índice de desempenho
satisfatório dos alunos é superior
(respectivamente, 63% e 64%) ao
do Nordeste (43%) e ao da região
Norte (44%).
Em todas as partes do país, entretanto, o hiato entre escola pública e privada constitui o dado
mais impressionante da pesquisa.
Apenas um exemplo. Na região
Sudeste, 81% dos alunos de escolas particulares foram bem em
matemática. Na rede pública, a
proporção cai para 37%.
Confirma-se, é claro, a constatação de que o Brasil tarda a enfrentar o desafio que se segue ao processo, bem-sucedido, de universalização do ensino básico. Garantido o acesso ao ensino fundamental, falta fazer com que se torne, de fato, ensino.
Não é apenas o aluno que marca passo, diante do absenteísmo e
da má remuneração dos professores, da carência de material escolar e de orientação pedagógica
adequada. É o país inteiro, que se
gaba de avançar rumo ao grupo
das potências econômicas mundiais, que arrasta, no plano da
qualificação da mão de obra e da
formação dos cidadãos, o peso de
seu passado.
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