São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997.



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Os empregos do futuro e a profissionalização

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
A taxa de desemprego na região da Grande São Paulo voltou a subir. O Brasil não consegue gerar empregos de boa qualidade.
Vejam o caso da construção civil. Apenas 30% dos trabalhadores fazem parte do mercado formal. Cerca de 70% estão no mercado informal. São pessoas que trabalham por conta própria ou sem registro em carteira de trabalho. É verdade que bons empregos dependem de bons investimentos. Mas é verdade também que um bom desempenho profissional depende de boa educação.
Na construção civil há muito mais mão-de-obra não-qualificada entre os 70% do que entre os 30%. São cerca de 5 milhões de trabalhadores que poderiam melhorar e até adquirir uma profissão por meio de treinamentos rápidos em carpintaria, eletricidade, hidráulica etc.
O Sesi e o Senai já desenvolvem ações nesse campo. Por que não intensificar a articulação dos seus recursos com os recursos do governo e demais segmentos da sociedade para fazer mais do que vêm fazendo?
O governo federal, acertadamente, está dando especial atenção ao ensino do primeiro grau. Não há o que criticar. Mas por que não reforçar a parte do ensino profissionalizante junto a segmentos específicos da população, em especial os adultos?
O Brasil gasta cerca de 4% do PIB em educação -o que não é pouco-, mas o rendimento é baixo, sobretudo por força de uma desagregação de esforços que sempre dominou o cenário educacional brasileiro.
Mais de dois terços das escolas públicas de primeiro grau estão na zona rural enquanto a maioria do alunado está na zona urbana. Cerca de 20% das escolas urbanas atendem quase 80% dos alunos.
Há salas vazias no campo e superlotadas nas cidades. Por que não usar essa ociosidade para implantar programas de treinamento de rápida duração, não exclusivamente para profissões agrícolas, mas também para as profissões das cidades que, afinal, serão o destino de muitos que hoje moram no campo?
A baixa remuneração força uma boa parte dos mestres a fazer jornada dupla no primeiro grau. Por iniciativa do MEC, os salários dos professores vão aumentar. Será que isso não poderia ser ainda mais alavancado se o governo envolvesse outros setores sociais que precisam de mão-de-obra de boa qualidade?
O governo federal está distribuindo um número recorde de livros didáticos -110 milhões!- e aumentando os recursos da merenda escolar em 50%. A TV Escola visa aperfeiçoar o corpo docente. Isso é crucial. Mas por que não acoplar isso com programas de treinamento profissional em grande escala que criem ambientes de estudo que propiciem oportunidades de aperfeiçoamento pedagógico?
O acirramento da competição internacional está exigindo pessoas muito bem educadas. A busca da boa educação deve ser perseguida, em especial, pelos mais jovens. Penso, porém, que, para os mais velhos, o treinamento profissional é crucial para os seus empregos e para a própria nação.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.





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