São Paulo, Terça-feira, 28 de Setembro de 1999
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O que queremos para a Colômbia


São proibidas incursões militares de nossos homens no território de países vizinhos


HERNAN RAMIREZ

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo (Farc-EP), completaram 35 anos em maio. Seus objetivos programáticos se enquadram numa saída política do grave conflito social e armado que domina a Colômbia há 50 anos. Queremos, em primeiro lugar, que o país tenha um governo nacional, pluralista e democrático que, por meio das reformas necessárias, conduza a Colômbia e os colombianos à reconciliação e reconstrução nacional, à paz com justiça social.
Em nossa plataforma de governo afirmamos que a Colômbia manterá relações internacionais com todos os países do mundo, sob o princípio do respeito pela livre determinação dos povos e do benefício mútuo. Nesse sentido, queremos priorizar tarefas que fomentem a integração regional e latino-americana; queremos respeitar os compromissos políticos do Estado colombiano com outros Estados. Queremos rever todos os pactos militares e de ingerência das grandes potências em assuntos internos. Pretendemos renegociar a dívida externa colombiana, pedindo um prazo de dez anos de isenção dos juros sobre ela.
A oitava conferência de nossa organização aprovou o documento "Política de Fronteiras". Nele, reafirmamos o que foi dito acima e dizemos que procuraremos consolidar as melhores relações de amizade, cooperação, respeito e compreensão recíprocos com populações e autoridades dos países que fazem fronteira com o nosso. São proibidas incursões militares de nossos homens no território de países vizinhos.
Compartilhamos com o Brasil a maior reserva biológica da humanidade, que possui caráter estratégico e que se chama Amazônia. Esse patrimônio comum com outros países da área precisa ser defendido da cobiça do imperialismo, que sonha em cravar nele suas garras criminosas e apropriar-se de seus recursos, globalizando e privatizando-os. Nesse ponto, concorda conosco uma imensa corrente de opinião pública do Brasil e da América Latina, que não iremos trair.
Finalmente, desejamos ser reconhecidos como força beligerante por muitos países, entre eles o Brasil. Queremos esse reconhecimento porque nos erguemos em armas contra um regime que consideramos injusto e criminoso, que permite a intervenção direta dos EUA contra nosso povo, que luta de maneira justa para melhorar suas condições de vida, empregando todas as formas possíveis em nosso país.
É preciso dizer que já foram várias as tentativas de buscar saídas que não o confronto armado para a crise que atinge o país. Mas todos esses esforços foram derrotados porque os sucessivos governos que a Colômbia teve nos últimos 50 anos se empenharam em aplicar a doutrina de segurança nacional, para isso recorrendo à guerra suja, ao terrorismo de Estado e a todos os seus procedimentos criminosos, com o objetivo de fechar o caminho do povo que luta por uma pátria digna, soberana, independente e que seja para todos os colombianos.


Hernan Ramirez, 55, é integrante da comissão internacional das Farc-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo), responsável pelo trabalho político-diplomático no Brasil e professor de filosofia na organização.
Tradução de Clara Allain




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