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FERNANDO CANZIAN
A vez do "Fora imprensa!"
EVENTUAIS suspeitos de crimes ou trambiques não são,
necessariamente, incompetentes. Muitas vezes, ao contrário.
Não é à toa que o presidente Lula
pode se reeleger no primeiro turno
no domingo, apesar de quase todos
os seus homens de confiança terem
sido abatidos por escândalos.
No leito da popularidade de Lula
correm hoje razoáveis fundamentos econômicos obtidos nos últimos três anos. Nada extraordinário, já que o Brasil surfou no melhor contexto econômico mundial
dos últimos 30 anos. Mas o governo poderia ter perdido essa chance.
Desde 2003, o país faz forte ajuste nas contas externas e tem hoje
saldo positivo nas transações com
o mundo. As reservas devem fechar
o ano em US$ 80 bilhões, e o país
terá uma dívida pública interna
menor e desdolarizada. Já a dívida
externa pública foi zerada.
Para o chamado povão, esse
"economês" se traduz, basicamente, em inflação baixa e mais comida
na mesa. Com a ampliação dos programas sociais e os aumentos dos
benefícios da Previdência, os pobres viram dobrar nos últimos três
anos o poder de compra em relação
à cesta básica. Com mais 5,7 milhões de empregos formais, isso tudo desembocou na tão falada criação da "renda chinesa" em 2006.
Mas economia é uma coisa; corrupção e política, outra. Lula e o PT
agora querem misturar água e vinho, como se uma boa sangria gelada pudesse embotar as suspeitas
que derrubaram tanta gente.
Lula ataca o "partidarismo da
imprensa" e exige uma "cobertura
republicana". Os petistas falam em
"golpismo" da mídia. Principalmente depois que a gasolina do
dossiê ateou fogo à campanha.
O que o PT e Lula esperavam?
Que a mídia perdoasse o mensalão
e o dossiê? Que não expusesse a
turma de quinta que ronda o Planalto? Que aceitasse o Lula traído
em nome do neo "rouba mas faz"?
É bom lembrar que o presidente
"vítima" da imprensa é o mesmo
que pedia o nada republicano "Fora FHC!". É o mesmo que se nega,
mês após mês, a dar uma entrevista
longa e decente para os grandes
jornais. O mesmo que não vai a debates e que se recusa a enfrentar
sabatinas. O que quer Lula agora?
O "Fora imprensa!"?
Antes de falar mal da mídia, o
presidente deveria dispor-se a falar
"para a mídia". Mesmo um presidente acossado pelo caos no Iraque
como George W. Bush se submete
quase quinzenalmente a entrevistas coletivas desconfortáveis, mas
respeitosas. Lula simplesmente
não fala, não encara, não se expõe.
Pior, não se explica. Só faz isso em
discursos inflamados dirigidos
"aos seus" ou em raríssimas e rápidas entrevistas na TV.
Na reta final, criticar a mídia virou saída fácil de quem tem medo
das próprias respostas -e não exatamente do calibre das perguntas.
FERNANDO CANZIAN é repórter especial da Folha.
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