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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Só fantasia?

BRASÍLIA - O governo não anda num bom momento. Beneditas, Agnelos, Luízes Eduardos, Dudas. Todo dia uma chapuletada. E a última é de deixar qualquer um zonzo.
Trata-se da reportagem de Policarpo Júnior na revista "Veja", mostrando um lado realista -e mesmo assim surpreendente- do PT na campanha presidencial do ano passado. Uns caras petistas não muito famosos, mas bem atuantes, faziam operações heterodoxas para minar os adversários, especialmente Ciro Gomes, considerado perigoso num eventual segundo turno contra Lula.
Segundo o texto, valia tudo. Plantações, alianças com ACM (cujos métodos os petistas sempre criticaram), negociações esdrúxulas com procuradores da República, que tinham de ser neutros por dever de ofício.
Em muitos aspectos, as histórias são vagas, sujeitas a confirmação. Mas, como têm ares de veracidade, Paulo Pereira da Silva faz bem em dar um tempo nas relações com o governo do PT. Ele era o vice na chapa de Ciro e atribuía aos tucanos as denúncias que pipocavam a toda hora. E que, agora, têm a marca PT.
Quanto ao próprio Ciro Gomes, parece mais confortável recorrer ao de sempre: ou a imprensa é leviana, ou mentiu, ou está a serviço de alguém. Desde que ele deixe o dito pelo não dito e continue ministro. Síndrome de Estocolmo: o sequestrado que acaba aderindo ao sequestrador.
No mais, espantosa a atuação do procurador Luiz Francisco de Souza, tantas vezes considerado ícone da decência. Com ACM: ele se despiu de compromissos e pruridos para gravar e depois divulgar revelações do senador a procuradores. Com o PT: ele nem ouviu o conteúdo, mas mexeu seus pauzinhos para afastar fitas esquisitas de Santo André do caminho de Lula. Dois pesos, duas medidas.
Toda a história precisa ser escarafunchada, mas Luiz Francisco, como procurador, mergulhou tão apaixonadamente num lado contra o outro que mandou "às favas os escrúpulos de consciência". Tal e qual um signatário do AI-5 às avessas.


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