São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Pacote argentino

A DECISÃO da presidente Cristina Kirchner de estatizar a previdência argentina ampliou as dúvidas sobre a solvência do país. O projeto que estatiza fundos de US$ 30 bilhões, diz o governo, foi concebido para proteger a pensão dos trabalhadores que optaram pela modalidade privada. Há a suspeita, no entanto, de que se trata de estratagema para pagar a dívida externa, diante da falta de financiamento estrangeiro e da queda no valor das commodities.
Está em curso uma progressiva degradação na economia. A cotação do principal produto de exportação, a soja, caiu mais de 40% em três meses. O trigo, outro importante item, teve queda superior a 50%. Com o mergulho das commodities, o Tesouro argentino já deixou de arrecadar US$ 2,7 bilhões em impostos.
O país teve crescimento de mais de 8% anuais nos últimos cinco anos. A alta nas exportações e a retomada do gasto público empurraram o crescimento. Mas o congelamento de tarifas e outros malabarismos na política econômica, como a manipulação do índice de inflação, limitaram o investimento produtivo.
A piora no cenário econômico coincide com o desgaste na popularidade da presidente, já debilitada por uma marcante derrota no Senado em julho -quando falhou a tentativa de sobretaxar as exportações agrícolas. A medida contra os fundos privados foi anunciada em momento crítico. Argentinos, escaldados pela violência de sucessivos planos econômicos no passado recente, habituaram-se a tirar dinheiro do país ao menor sinal de mudança de rumos na política.
O pacote, que precisa passar pelo Congresso, ampliou as incertezas sobre as regras básicas do jogo na Argentina. Que seja apenas uma situação passageira.


Texto Anterior: Editoriais: O pêndulo do PMDB
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O fim dos "ismos"?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.