São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2008

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MARCOS NOBRE

Um Geraldo no caminho

SÃO PAULO desequilibra o jogo político. Além de 30% do PIB, tem 22% do eleitorado. Quem tem pretensões nacionais precisa ou fazer uma ampla coalizão de forças do restante do país, ou ganhar base paulista.
A neo-aliança tucano-petista em Belo Horizonte foi exemplo da união dos contrários paulistas.
Mas, tudo somado, não conseguiu convencer nem empolgar. Todo mundo continua olhando mesmo é para São Paulo.
Principalmente porque a estratégia de José Serra foi a de ceder base eleitoral. O governador de São Paulo pagou desde já a fatura de 2010. Entregou legítimo território eleitoral tucano para implantar o DEM e fazer renascer o PMDB local, elegendo Alda Marco Antônio vice-prefeita da capital (e candidata "natural", como se diz, em 2012).
Pelo menos por ora, essa nova redistribuição não significa equilíbrio de forças. As eleições na cidade de São Paulo, por exemplo, são hoje reguladas por uma divisão PT/anti-PT. Nessa lógica, o PT fica encurralado pelo teto máximo de um terço do eleitorado. Quando se considera todo o Estado, o teto de votação do partido também se mostra próximo disso.
Não foi por outra razão que Lula se empenhou tanto nas eleições na Grande São Paulo. Tentou preservar a presença eleitoral necessária para não inviabilizar a candidatura presidencial de Dilma Rousseff.
Em suma, tudo parece perfeito para Serra. Mas: tem um Geraldo Alckmin no meio do caminho.
Em poucas semanas, o pesado tiroteio eleitoral travado na cidade de São Paulo entre tucanos, kassabistas e quercistas vai parecer distante. Mas não será facilmente esquecido. Nem Alckmin desaparecerá do cenário.
Dificilmente DEM e PMDB aceitarão uma candidatura Alckmin ao governo em 2010. Já o candidato preferido de Serra, Aloysio Nunes Ferreira, seria o nome ideal para manter a atual composição.
Nesse quadro, ganham credibilidade os rumores da possível transferência de Alckmin para o PTB no ano que vem, quando o partido deixaria a base de apoio do governo Lula, em um movimento já realizado no final do governo FHC.
Se isso acontecer, a estratégia de Serra de dividir a capitania eleitoral de São Paulo pode se virar contra o PSDB. O loteamento pode se tornar de fato competição eleitoral.
Desde o declínio de Paulo Maluf, São Paulo não viu aparecer aquela terceira grande força que torna qualquer eleição ainda mais imprevisível. Com ela, o resultado pode ser simplesmente a perda de uma hegemonia tucana de 16 anos.
Mais: pode acabar tirando o PT do encurralamento em que se encontra hoje em São Paulo.

nobre.a2@uol.com.br


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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