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São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

2004: educação, o fator decisivo

Chegamos ao fim de um ano duro. Felizmente, os futurólogos falam de tempos melhores em 2004.
Os dados da área internacional são animadores. Os EUA parecem ter entrado numa rota de crescimento sólido na qual ganharão trabalhadores, consumidores e empresários, com aumento de investimentos e empregos.
A virada no mercado de trabalho já começou. O país está gerando cerca de 125 mil postos de trabalho por mês, podendo chegar a 150 mil a partir de janeiro. Os mutuários de crédito imobiliário substituíram os empréstimos contraídos a 10% ou 12% ao ano por empréstimos a 4% ou 5% anuais, como consequência da taxa básica de juros, que está em 1% ao ano.
Só esse refinanciamento liberará um colosso de recursos para o consumo. Aliás, o índice de confiança dos consumidores neste fim de ano saltou para 91,7%, subindo dez pontos percentuais em um semestre. Um recorde.
A animação dos consumidores é propelida não só pelas baixas taxas de juros, mas também pela redução de impostos praticada pelo governo federal, em especial a do Imposto de Renda. Os americanos começam a receber de volta o que pagaram em excesso no ano passado. Isso também injeta enormes recursos no consumo doméstico.
A desvalorização do dólar em relação ao euro está impulsionando as exportações em direção à Europa, o que, evidentemente, ativa ainda mais a economia americana. E, no médio prazo, acabará ativando também a economia européia, pelo efeito que terá na aceleração das reformas previdenciária, trabalhista e tributária que estão em curso, elevando a eficiência da Europa. O mesmo poderá ocorrer com o Japão.
Em suma, o cenário internacional desponta como risonho e franco para 2004. Infelizmente, isso não é sinônimo de prosperidade generalizada. O boom americano e as boas perspectivas da Europa e do Japão acontecem em um mundo onde os 20% mais ricos detêm nada mais, nada menos do que 82,7% da renda, e os 20% mais pobres, mísero 1,4%. É uma selvageria, que atinge o Brasil em cheio. Aqui, os 20% mais ricos têm 64,1% da renda e os 20% mais pobres, 2,2%. Isso conspira contra o crescimento sustentado.
A desigualdade está sendo brutalizada pelo avanço da globalização. O que fazer? Nesse campo, temos de ser realistas e, em lugar de simplesmente protestar contra ela, observar e fazer o que outros países -por exemplo, as nações do Sudeste Asiático- fizeram para tirar vantagem desse processo. A educação foi a pedra fundamental.
Precisamos saltar rapidamente dos 4,5 anos de escola -que é a média de educação da força de trabalho do Brasil- para gradativamente chegarmos, em dez anos, à média dos Tigres Asiáticos. Só assim poderemos acompanhar as novas tecnologias e métodos de produção e tirar vantagem deles para, com isso, participar do espetáculo do crescimento mundial.
Com esse sonho em mente, torcendo para que o nosso país considere a educação a principal prioridade desta nação, desejo a todos os meus leitores um Brasil mais responsável e próspero para 2004.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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